em memória de Gerd Weinberg
Um brasileiro diz:
– Ô alemão!
O meu avô era alemão.
Ele tinha um irmão mais novo.
– O irmão mais novo não existe.
O que existe é uma carta.
A capoeira diz:
– O que é que eu sou?
– Eu sou é brasileiro!
– O que é que eu sou?
Alemão?
Eu, criança, andando na rua, e me chamaram de alemão.
Meu avô era alemão judeu.
– Alemão judeu não existe.
O que existe é um refugiado.
O sonho diz:
– O irmão mais novo sozinho perdido em meio a uma guerra.
As palavras do irmão do meu avô que chegaram até mim estão numa carta.
Aqui me chamam de Cavalinho, por causa da forma dos meus dentes.
– O Cavalinho não existe.
O que existe é uma ansiedade.
A carta diz:
– Pferdchen.
Já estou farto, isso tudo é uma merda.
O irmão do meu avô sozinho em uma Holanda ocupada pelos nazistas.
– Não existe.
O que existe é Sobibor.
Sobibor diz:
– A vida, Cavalinho, não existe.
O que existe é uma pedra pra se tropeçar.
Texto publicado originalmente no blog Algumas Coisa Escritas.
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