O “Ministro das Relações Exteriores” egípcio, Nabil Fahmy, disse ao jornal londrino “Al Hayat” que, no momento, há uma tensão entre o Cairo e o Hamas, partido que atualmente está no governo palestino da “Faixa de Gaza”. As “Forças Armadas do Egito” alegam que militantes do Hamas atuaram em conjunto com islamitas que apoiam a “Irmandade Muçulmana” ao norte do Sinai. A região vem sendo palco de violência crescente entre militares e ativistas em prol do presidente deposto, Mohamed Morsi.
Há duas semanas, a televisão estatal egípcia já havia acusado o Hamas de treinar militantes islamitas egípcios com técnicas de transporte de bombas. O Hamas negou o fato fortemente, alegando que esta era uma tentativa de demonizar o partido político.
Segundo Fahmy, se o governo egípcio sentir que há grupos no Hamas ou em qualquer outro partido tentando violar a segurança nacional do Egito, a resposta do Exército será severa. Ele não especificou de que forma tal resposta se colocaria, no entanto. O atual Ministro das Relações Exteriores egípcio recebeu o cargo após a derrubada de Morsi da presidência. Na entrevista ao “Al Hayat”, ele acrescentou: “Se o Hamas provar através de ações e não de palavras – e infelizmente há muitos indicadores negativos – suas boas intenções, então ele encontrará um partido egípcio que proteja o lado palestino”.
Grande parte da economia e da qualidade de vida da população de Gaza está atualmente diretamente conectada às relações com o Cairo. A região palestina sofre embargos econômicos fronteiriços estabelecidos por Israel e depende do contrabando de produtos realizado através de túneis conectados ao Sinai.
Desde julho, mês em que o ex-presidente Mohamed Morsi foi deposto pelo Exército com a pressão da população contra seu regime, as “Forças Armadas” egípcias já demoliram mais de 150 destes túneis, que ligam o país à “Faixa de Gaza”. O porta voz do Exército egípcio, Ahmed Ali, declarou que as operações são em prol da segurança do Egito e reafirmou a colaboração de grupos em Gaza aos militantes islamitas na região do Sinai. Ali assegurou que as operações não têm como objetivo estabelecer uma zona tampão, isolando Gaza, como acredita o Hamas.
O Hamas é por ideologia uma ramificação da “Irmandade Muçulmana”, e o posicionamento do governo egípcio na defensiva em relação ao grupo segue de acordo com a atuação interna do Exército, que vem combatendo os militantes que apoiam o grupo político em questão desde a queda de Morsi. O ex-presidente, deposto no último dia 3 de julho, está sendo investigado sob a acusação de conspirar com o Hamas quando escapou da prisão em 2011.
O próprio jornal “Al Hayat” afirmou em um artigo que os palestinos que vivem em Gaza estão sofrendo as consequências das escolhas do atual governo em relação à política com o Egito. Nabil Fahmy foi questionado se qualquer resposta armada em relação ao Hamas pode incluir o fechamento da fronteira de “Rafah”, entre o Sinai e Gaza. Em resposta, o “Ministro das Relações Exteriores do Egito” disse que as opções são de segurança militar e não opções que possam resultar no sofrimento da população civil palestina.
O Hamas segue negando as acusações egípcias. O vice-Ministro das Relações Exteriores da Faixa de Gaza, Ghazi Hamad, descreveu os comentários de Fahmy como perigosos e desnecessários. Hamad alegou, ainda, que a declaração fornecida ao Al Hayat contradizem a longa história do Egito em defesa do povo palestino.
Texto publicado originalmente no blog Oriente Médio Hoje.
Este e outros textos da autora podem ser conferidos em http://www.jornal.ceiri.com.br/author/carla/
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