Gabriel Douek

  • Facebook
  • RSS for Gabriel Douek
  • Mail
Gabriel Douek é educador, formado em Pedagogia pela USP e atua profissionalmente junto a uma instituição da comunidade judaica ortodoxa de São Paulo. A fotografia é seu hobby predileto e, em Israel, já desenvolveu dois ensaios fotográficos.

Posts recentes no blog escrito por Gabriel Douek

Reflexões a partir da Semana do Apartheid Israelense na USP

Aqueles que conhecem um pouco da USP sabem que a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) é, por excelência, a grande casa do movimento estudantil. Seu espaço abriga assembleias, atos, manifestações e reuniões de grupos que frequentemente se definem como revolucionários.

Na última semana, um desses grupos, a Frente Palestina da USP, chamou a atenção ao construir um muro em frente às rampas de acesso às salas e espalhar cartazes e bandeiras palestinas em alguns pontos da faculdade. Tratava-se da divulgação da “Semana do Apartheid Israelense”, um evento internacional que, este ano, esteve presente também em nossa Universidade. De segunda à sexta, a programação contou com palestras, conversas, exibições de filmes e até uma cervejada que trouxeram à tona a questão palestina para dentro do espaço acadêmico.

Participei como ouvinte de duas atividades da Semana: a mesa de abertura, na segunda-feira, em um anfiteatro lotado, e a mesa sobre o a campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções à Israel (BDS), na quinta-feira, em uma sala de aula da faculdade de Ciências Sociais, com um público de, aproximadamente, 30 pessoas. Bastou assistir às duas mesas para perceber que o evento transitou entre duas maneiras absolutamente distintas de se apresentar e pensar o conflito envolvendo israelenses e palestinos.

Na segunda-feira, embasadas pela perspectiva histórica, todas as falas, ainda que diferentes no que diz respeito às convicções políticas, foram capazes de colocar na mesa a complexidade da conjuntura e, principalmente, de dialogar entre si, favorecendo o debate e a ampliação do conhecimento sobre o assunto.

A atividade de quinta-feira, porém, foi marcada por visões simplistas e maniqueístas sobre o tema, com apresentações rasas e apelativas que buscaram demonizar o Estado de Israel desde sua criação, valendo-se de generalizações e acusações agressivas pouco fundamentadas. Construiu-se um discurso de ódio por meio da exposição de uma história única que tinha como objetivo declarado angariar novos militantes para combater Israel através do boicote econômico, cultural e acadêmico. Nesse sentido, as palestrantes recorreram a leituras extremamente simplistas, comumente verificadas não apenas no discurso de movimentos sociais de esquerda, mas também no das organizações sionistas de direita, apesar de opostas em seus conteúdos. Dentre os diversos fatores que compõem essa abordagem está a essencialização dos povos israelenses e palestinos, o não reconhecimento dos direitos do outro e a impossibilidade de diálogo.

Nesse tipo de discurso está embutida a tentativa de elevação de uma determinada narrativa ao patamar de verdade absoluta, seguida da deslegitimação de todas as outras. Tal visão excludente contribui para a criação de um ambiente hostil e pouco aberto a questionamentos e reflexões, em direção contrária ao que se espera de um evento realizado em ambiente acadêmico. Enclausurados em suas próprias convicções, esses pequenos grupos tornam-se quase insignificantes do ponto de vista prático, uma vez que seu discurso ecoa de maneira positiva e mobilizadora apenas dentro de seus círculos, não atingindo o outro e mantendo estática a situação que dizem tentar mudar.

Movimentos de solidariedade aos povos envolvidos nos conflito deveriam buscar aprofundar as discussões propostas por meio do entendimento das múltiplas narrativas propagadas por eles. O debate, essencial para chegarmos a uma solução justa, se mostra cada vez mais urgente e não pode ser calado, mas precisa ser feito com toda a seriedade e profundidade que  palestinos e israelenses merecem.

O que queremos com nosso ativismo?

Tempos de crise em Israel. Os recentes bombardeios na Faixa de Gaza e a intensificação do lançamento de foguetes contra o território israelense acordou ativistas de ambos os lados. Discursos maniqueístas repletos de acusações e certezas ocuparam as páginas do Facebook na forma de notícias, imagens e textos diversos. Na mesma semana, a Av. Paulista foi palco de 2 manifestações completamente opostas, mas que tinham um único ponto em comum: exigiam o fim dos ataques vindos “do outro lado”. 

Ao mesmo tempo em que se utilizaram discursos que se diziam “a favor da paz”, não vimos, em momento algum, o reconhecimento da dor do outro, nem a legitimação de suas lutas por segurança, soberania, autodeterminação e liberdade.

Dado o cenário, devemos nos fazer algumas perguntas: se somos, de fato, a favor da paz, por que somos incapazes de carregar bandeiras israelenses e palestinas lado a lado? Se somos, de fato, a favor da paz (e desejamos que os dois povos dialoguem e convivam em harmonia), por que nos colocamos de maneira agressiva frente a qualquer narrativa que seja diferente da nossa? Se somos, de fato, a favor da paz, por que não começamos dando o exemplo através de nossas próprias iniciativas?

Na semana passada, o cessar fogo foi anunciado. Como esperado, a maioria dos ativistas voltou a dormir. As notícias, os posts e as manifestações começaram a silenciar. Devemos, então, nos fazer uma última pergunta: se somos, de fato, a favor da paz, nos contentaremos com o cessar fogo ou buscaremos uma paz justa e duradoura para a região?

.

“Os judeus não aprenderam nada com o Holocausto”

Podemos dizer que a internet é, atualmente, se não a principal, uma das principais ferramentas de divulgação de conhecimento e opiniões. Diariamente são publicados, comentados e compartilhados milhares de artigos acerca dos mais variados assuntos. O conflito árabe israelense é tema recorrente, e chama a atenção por sua polêmica e não rara polarização de opiniões.

O espaço para comentários dos leitores nos diversos portais de notícias é interessantíssimo, já que traz os mais diversos pontos de vista e pode servir para favorecer a troca e o diálogo; mas quando não utilizado com responsabilidade, pode ser muito perigoso.

No site Opera Mundi, por exemplo, que conta hoje com 32.991 seguidores no Facebook e 23.291 no Twitter, a recente publicação do artigo “Maioria dos judeus em Israel é a favor do Apartheid”, citado e comentado aqui por Uri Politis, gerou uma série de comentários, muitos deles com alto teor racista.

Não irei abordar aqui aqueles que escancaram o apoio à barbárie e ao genocídio, que são inadmissíveis e devem ser rechaçados em qualquer circunstância. Cito um deles apenas de maneira ilustrativa:

Assim como o comentário acima, outros insistem em trazer à tona a temática do Holocausto e do nazismo, fazendo uma comparação sistemática que aproxima o regime totalitário de Hitler com a atual situação do Oriente Médio. O mínimo de bom senso e estudo é suficiente para perceber as diferenças brutais entre uma coisa e outra e, por isso, também não perderei tempo fazendo tal distinção.

Porém, acho que vale a pena refletirmos aqui sobre uma ideia muito presente no discurso daqueles que criticam o Estado de Israel afirmando que “os judeus não aprenderam nada com o Holocausto”, como é o caso dos comentários abaixo:

Sem fazer grandes interpretações, percebemos que o que está por trás deste tipo de afirmação é a crença de que o assassinato de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu para ensinar algo a esse povo.

Assim, dizer que os judeus deveriam ter aprendido algo, e não aprenderam, é conceber o genocídio judaico como uma espécie de “lição” ou “castigo” que não surtiu efeito. E ainda mais: é afirmar que o holocausto não foi suficiente.

Tais interpretações demonstram um erro grave de leitura dos acontecimentos históricos. Deveriam ter aprendido algo os negros com 300 anos de escravidão? Ou os japoneses com os absurdos vividos em Hiroshima e Nagasaki?

Se o Holocausto pode nos trazer algum ensinamento, é um ensinamento válido para toda a humanidade: a que ponto o preconceito e a intolerância podem chegar. Mas o fato é que não vemos este tipo de argumentação quando se critica a opressão em qualquer outro conflito espalhado pelo mundo.

O que podemos e devemos reivindicar do Estado (e não do povo) judeu é o respeito às leis internacionais e aos direitos humanos garantidos por elas, sem se utilizar de uma das maiores catástrofes da história mundial para criticar uma comunidade étnico-religiosa. Devemos nos solidarizar com todos os que são e foram vítimas da opressão da mesma maneira, sendo coerentes e rechaçando qualquer forma de discriminação e barbárie vividas no passado, no presente e no futuro.

Ensaio fotográfico

Ensaio fotográfico produzido em 2009, durante viagem de um mês a Israel.

Machané Yehuda, Jerusalém.

 

Machané Yehuda, Jerusalém.

 

Chassid do Rebe Nachman de Breslav, em Jerusalém.

 

Bairro ortodoxo de Mea Shearim, Jerusalém.

 

Bairro ortodoxo de Mea Shearim, Jerusalém.

 

Nascer do sol na Cidade Velha de Jerusalém.

 

Muro das Lamentações, Jerusalém.

 

Muro das Lamentações, Jerusalém.

 

Muro das Lamentações, Jerusalém.

 

Muro das Lamentações, Jerusalém.

 

Muro das Lamentações, Jerusalém.

 

Plugin by Social Author Bio