Marcel Beer Kremnitzer

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Marcel Beer Kremnitzer é internacionalista formado pela Universidade de São Paulo.

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Não, o BDS não discrimina Israel de forma injusta

Traduzido do original por Marcel Beer Kremnitzer

Ironicamente, o movimento de boicote demonstra algum nível de fé na democracia israelense, ao crer que alguma pressão pode motivá-la a mudar

Stock photo boycott activists in France. (Photo by Olga Besnard/Shutterstock.com)

Quando a última flotilha partiu mar adentro a Gaza, para protestar contra os oito anos de bloqueio israelense, o primeiro-ministro Netanyahu escreveu uma carta aberta aos ativistas. Em tom altamente sarcástico, sugeriu que eles haviam tomado uma curva errada no caminho da Síria. É parte de um discurso obsessivamente repetido: “Há violações piores por aí, mas ninguém nunca protesta contra elas. Portanto, denunciar a ocupação em nome dos palestinos é hipocrisia, antissionismo ou antissemitismo. Portanto, tudo isso pode ser ignorado.” Em nenhum lugar esse argumento é mais repetido do que como resposta aos esforços de boicotes, desinvestimento e sanções (BDS) contra Israel.

Numa primeira análise, esse ponto é genuinamente tocante. Ninguém que alegue preocupar-se com direitos humanos pode dormir à noite sabendo o que está acontecendo com milhões de sírios; eles estão sendo deslocados à força, expulsos e massacrados.

O problema não é que pessoas progressistas não liguem para essa tragédia. O problema é que as acusações de indiferença mundial são puramente falsas. Independentemente de você apoiar ou sentir desprezo pelo boicote a Israel, chegou a hora de parar de taxá-lo de hipócrita.

Comecemos pelas sanções. Os Estados Unidos e a Europa colocaram em vigor, ambos, sanções ao Irã por violações a direitos humanos – não por pesquisas nucleares. Sanções internacionais com o intuito de dar fim a crimes contra direitos humanos começaram muito antes da alegada “discriminação hipócrita” contra Israel, inclusive antes da ocupação dos territórios palestinos.

Em 1965, a Grã-Bretanha colocou em vigor sanções contra a Rodésia; então, um ano depois, pela primeira vez na História, o Conselho de Segurança da ONU autorizou sanções internacionais, pelos próximos 14 anos, contra esse governo da minoria branca, até que a Rodésia criou um governo mais justo e tornou-se o Zimbábue. (Israel, acidentalmente, foi um dos países que desrespeitou as sanções – demonstrando, ao menos, coerência moral e política.)

A ONU impôs sanções contra o Iraque (em 1990, pelo tratamento dado aos kuwaitianos durante a invasão desse país) e contra a Iugoslávia no começo dos anos 90, pelo tratamento de suas minorias étnicas. Nesses casos, as sancões precederam intervenções militares internacionais, algo que nunca esteve perto de ser considerado pelo Ocidente no caso de Israel.

Outros países, notáveis em termos de desrespeito aos direitos humanos, foram colocados sob regimes internacionais de sanções, como Sudão, Somália e Serra Leoa. Incluindo sim, ela mesma, a Síria. A acusação de “discriminação” contra Israel é simplesmente falsa.

E os crescentes boicotes originados entre acadêmicos e artistas? Qual o motivo para não se voltarem contra Coréia do Norte, ou o Estado Islâmico?

ISIS conducting a mass execution in the ancient city of Palmyra, Syria.

Em primeiro lugar, celebridades provavelmente querem apoiar o que eles entendem ser o lado mais fraco, que precisa de mais atenção, a qual eles podem atrair. A narrativa israelense prevaleceu no Ocidente pelo maior parte do tempo que tem durado a ocupação dos territórios palestinos. O povo palestino foi essencialmente ignorado; rotulado coletivamente como terrorista; e seus desejos e experiências de vida, sob a ocupação israelense, mal interpretados ou ignorados. A última década de atenção à realidade palestina pode ser encarada como um pêndulo vindo em favor deste povo.

Celebridades podem achar que a atenção que elas têm não é necessária para as vítimas do Estado Islâmico. Todos concordamos que ser afogado, decapitado, empurrado do alto de um prédio ou queimado com ácido é medonho e abominável.

Em segundo lugar, é interessante trabalhar para uma causa na qual existe uma possibilidade real de fazer a diferença. A Coréia do Norte é uma fortaleza impenetrável, a qual dá de ombros para argumentos ligados a direitos humanos ou democracia, se é que minimamente os considera.

No entanto, justamente por Israel ter um ethos democrático, sendo parte do Ocidente e dialogando com ele, ativistas acreditam que há ganhos a se obter. Eles estão certos. Se Israel quer ser mais democrático com todos sob seu controle, certamente possui o funcionamento e o pensamento político para que isso aconteça. Por considerar-se um país democrático, a quase pentagenária ocupação dos territórios palestinos fica ainda mais ofensiva.

Há, porém, uma razão ainda mais simples para estudantes, celebridades, acadêmicos e outros indivíduos clamarem pelo boicote a Israel e não a outros países: os palestinos pediram isso.

O movimento BDS é definitivamente problemático. Há uma lacuna entre seus objetivos declarados e a ideia, às vezes exposta pelos seus apoiadores, que sem acabar com o Estado de Israel não haverá sucesso. Os ativistas do BDS podem ser agressivos e coercitivos. O boicote – especialmente contra a Cisjordânia – pode afetar mais aos palestinos que aos demais, tirando seus empregos.

Esses problemas são significativos. No entanto, assim como Israel espera que seus apoiadores sigam juntos (stand with us) apesar de seus problemas, também os palestinos pedem que as pessoas permaneçam ao lado deles a despeito de suas falhas. O movimento anti-apartheid sul-africano imolou colaboradores. Isso não impediu governos e corporações ocidentais, e todos no meu ensino médio, de orgulhosamente aderir ao boicote da África do Sul. Nós não odiávamos os brancos sul-africanos, e os aderentes ao boicote atual não são antissemitas automáticos. Eles só concluíram que é importante ter solidariedade, e o boicote é o que os palestinos pediram como ajuda.

Em todo caso, quais são as outras opções? Será que aqueles que pedem por liberdade aos palestinos deveriam protestar contra a ocupação da maneira que a força ocupante deseja? Na verdade, Israel rejeita todas as formas de protesto neste tópico. Violência é, obviamente, errada. Ações diplomáticas são rotuladas de tramóia antissionista. Demonstrações populares sem armas em vilarejos da Cisjordânia são reprimidas com gás lacrimogênio, água imunda, prisões e mortes. Negociações (fracassadas) são invariável e totalmente culpa dos palestinos. O boicote é chamado de “terrorismo econômico” – e, claro, hipocrisia.

Pro-Israel protesters hold signs condemning BDS as racist, New York, June 1, 2014. (Illustrative photo by A Katz/Shutterstock.com)

Se o movimento de boicote é acusado de querer eliminar o Estado de Israel, os agressivos mensageiros “pró-Israel” têm como objetivo o esquecimento geral e total da ocupação dos territórios palestinos. Defensores das políticas israelenses devem responder a essa acusação se esperam uma posição razoável do BDS.

Caso contrário, ativistas continuarão enxergando a hipocrisia de Israel: uma democracia que mantém pessoas acorrentadas. Um país que poderia mudar, precisamente por ser “a única democracia do Oriente Médio”. Estranhamente, provavelmente de uma maneira não-intencional, os protestos dos ativistas do BDS mostram a fé que têm que Israel, no fim, honrará seus valores democráticos se for um pouco mais pressionado, ou se eles puderem revelar as contradições internas aos israelenses que não as enxergam.

Alguns ativistas não querem só berrar suas opiniões. Eles querem concretizar algo, mesmo que não seja algo perfeito. Nós provavelmente acharíamos isso louvável, fosse a favor de qualquer outra causa.

Os círculos concêntricos do trauma

O conflito entre israelenses e palestinos – ou entre sionistas e árabes, se considerarmos que iniciou-se no século XIX, quando não havia o Estado de Israel nem a nação palestina –  não se resolve com facilidade devido, entre outros motivos, ao medo que aflige ambas as sociedades. Pavor e trauma são sentimentos típicos dos habitantes do naco de terra entre o Jordão e o Mediterrâneo. Enquanto os israelenses são levados a terem medo do mundo muçulmano e dos jihadistas globais, os palestinos carregam rancor e temor de Israel e dos sionistas. Por isso, o sentimento – medo – que une os dois povos em conflito também gera uma sensação única entre ambos: a eliminação iminente nas mãos de seus respectivos nêmesis (muçulmanos jihadistas e Israel). Os palestinos temem Israel, que teme os muçulmanos; círculos concêntricos de trauma, como em um jogo de dardos.

Judeus, que constituem mais de 75% da população do Estado de Israel, são inquestionavelmente reconhecidos por sempre terem sofrido discriminação, perseguições, massacres e, obviamente, o Holocausto. O trauma gerado por essa tragédia, onde foram assassinadas 6 milhões de pessoas – um terço da população judaica do planeta – ainda não abandonou a mentalidade do israelense médio. No nascer do século XXI, os israelenses adquiriram mais um ingrediente para a receita do medo eterno: a Segunda Intifada. Entre 2000 e 2005, palestinos (inclusive mulheres) entravam em discotecas, cafés, pizzarias e ônibus em Israel e, com o apertar de um botão, explodiam-se, no intuito de levar consigo o maior número possível de judeus. À luz do dia, em locais movimentados, os suicidas palestinos criavam cenários dantescos de concreto, metal, sangue e corpos despedaçados. Atualmente, a menção a um novo Holocausto não é rara, e seus possíveis perpetradores são conhecidos: grupos terroristas jihadistas (Hamas, Hezbollah, Estado Islâmico, Al-Qaeda, Boko Haram, etc) e um Irã munido de bombas nucleares. Esses atores frequentemente enfatizam, entre seus objetivos, a matança de judeus e a eliminação do Estado de Israel.

A pregação do medo na questão nuclear iraniana

A narrativa palestina do conflito é extremamente penosa e dolorida. O sofrimento causado pelo Mandato Britânico, pelos sionistas e pelos sucessivos governos israelenses persiste até hoje. Os palestinos foram presos, torturados, mortos e oprimidos pelos britânicos. Além disso, viram o governo da Rainha favorecer os sionistas, que imigravam e adquiriam terras em números significativos no pré-2a Guerra; Sir Herbert Samuel, Alto Comissário inglês na região entre 1920 e 1925, era judeu. Em 1948, os sionistas trouxeram a maior tragédia palestina: a Nakba (catástrofe), onde 700 mil pessoas foram obrigadas a sair de suas casas e vilas, muitos milhares foram mortas e a nação palestina foi humilhada. De 1948 a 1966, os palestinos restantes em Israel foram governados por militares, numa gestão discriminatória e diferente dos demais habitantes do país. Na longa lista de tragédias palestinas causadas por Israel estão Deir Yassin (1948), Kafr Qasim (1956), a Naksa (1967), a traição dos egípcios em 1974 e Sabra e Chatila (1982). Desde 1967, os sucessivos governos israelenses tomaram terras palestinas em Gaza e Cisjordânia, oprimiram e mataram seus moradores, impediram-nos de locomoverem-se, trabalharem e conduzirem suas vidas dignamente. Políticos israelenses no atual governo, como Avigdor Lieberman e Naftali Bennett, falam abertamente na inferioridade cívica dos palestinos e em sua possível expulsão de Israel.

O discurso do trauma na questão de Gaza. Ehud Olmert e Ban Ki-Moon estão retratados na caricatura

Esse enredo de tragédias passadas e presentes, sofrimento histórico e recente cria, nas mentes de palestinos e israelenses, a clara possibilidade de novas catástrofes e massacres. Esse medo é muito presente nas produções artística e cinematográfica, nos discursos políticos, nas notícias de jornal e nos diálogos rotineiros. Sociedades traumatizadas, que em qualquer interação com a outra carregam esse trauma e o medo de uma traição, uma reviravolta e de ver-se exposto e indefeso ao “inimigo”. Nas muitas conferências, planos, acordos e road maps de paz, um elemento de pressão popular (e até mesmo pessoal, na mente dos líderes) é o medo, o qual trava concessões, impede aberturas e antecipa cenários somente negativos. Governantes que utilizem-se do discurso do medo são favorecidos e obtém simpatia popular. Políticos que falem de “concessões”, “sacrifícios” e “empatia” são desmoralizados após o próximo atentado terrorista palestino ou a próxima punição coletiva israelense. Os estímulos errados aos políticos geram os sentimentos errados nos cidadãos, esse círculo fecha-se, alimenta-se e seguimos caminhando como caranguejos, transversalmente aos compromissos necessários à paz.

Bem vindos, judeus da diáspora, à Israel que vocês têm evitado

Por tempo demais, judeus da diáspora têm defendido um Israel imaginário. O real parece-se muito mais com o descrito na controversa Lei do Estado-nação.

No geral, esta não foi uma semana particularmente boa para ser israelense. Com a aprovação altamente controversa, pelo gabinete israelense, da lei do Estado-nação de Israel, parece que o termo Estado judaico e democrático finalmente foi enviado para a Lua, junto com unicórnios, dragões e outros seres míticos.

O projeto de lei - na realidade, há três versões diferentes atualmente disputando a aprovação - visa resolver a tensão inata da dupla identidade de Israel, tanto judaica quanto democrática, inclinando a balança fortemente para o lado judaico. Com efeito, é uma tentativa da direita de afirmar o status de Israel como o lar nacional do povo judeu, em conformidade com a Declaração de Independência de Israel, mas sem incômodas tradições gregas que só atrapalham.
A versão do Chaver Knesset (CK) do Likud Zeev Elkin, a mais extrema das três e uma das duas aprovadas pelo gabinete essa semana, retira a palavra democrático da definição da identidade de Israel como uma nação, faz com que os princípios democráticos de Israel sejam secundários à sua identidade judaica e libera o Estado para permitir às pessoas que pertencem a uma religião ou nacionalidade a criação de comunidades separadas.

Em uma versão mais suave do projeto de lei, proposta pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu - a qual espera-se que seja aquela aprovada em definitivo - os termos judaico e democrático não aparecem; no entanto, outra palavra-chave é eliminada: igualdade. Em vez de prometer total igualdade religiosa, social e nacional a todos os cidadãos, independentemente do sexo, raça ou credo, como prometido na Declaração de Independência de Israel, o projeto de lei de Netanyahu inclui a sentença, cuidadosamente redigida, Israel vai defender os direitos pessoais de todos os cidadãos, em conformidade com todas as leis.

O primeiro-ministro Netanyahu conversa com o Chaver Knesset Ze'ev Elkin, ambos do partido Likud

O primeiro-ministro Netanyahu conversa com o Chaver Knesset Ze’ev Elkin, ambos do partido Likud


O fato de que isso causou uma crise política aguda, a qual quase derrubou o governo, tem contribuído para o modo absolutamente histérico pelo qual os meios de comunicação - tanto em Israel quanto no exterior - têm coberto o projeto de lei: a ruína da democracia de Israel, a destruição do caráter moral de Israel, todos os alarmes foram acionados.

Desde a sua fundação, em 1948, ponderou um auto-proclamado magoado” editorial do New York Times esta semana, a própria existência e o objetivo de Israel - totalmente abraçado pelos Estados Unidos e pelas nações do mundo - foi baseado no ideal da democracia para todos os seus cidadãos.

Oi? Um momento!

Vamos tirar isso a limpo imediatamente: a chamada lei do Estado-nação, que foi aprovada pelo gabinete de Israel esta semana e causou um alvoroço internacional, não é o momento de decisão histórico que dizem ser.

Ele é, sim, a afirmação de uma realidade que está entrincheirada há um tempo muito longo.

Israel, em muitos aspectos, sempre foi mais judaico do que democrático. Mesmo sem uma lei como esta para codificá-los, os seus sistemas jurídico e legal já colocaram, muitas vezes, as necessidades da população judaica de Israel acima da adesão aos princípios democráticos. Cidadãos árabes e outros não-judeus de Israel têm sido sistematicamente discriminados por décadas quando se trata de acesso à educação, terra, infraestrutura, água e representação política.

Daniel François Malan, político sul-africano

Daniel François Malan, político sul-africano


Mesmo sem peças legislativas que soem como se tivessem sido desenterradas dos diários pessoais de Daniel François Malan (n.t. político sul-africano que implantou o Apartheid), Israel tem um sistema legal que permitiu a centenas de comunidades judaicas rejeitar os candidatos não-judeus para que nelas habitem, com base em “adequação social“.

Árabes israelenses não precisavam de novas razões para sentirem-se cidadãos de segunda classe, mesmo que o projeto de lei do Estado-nação atual torne essa situação praticamente oficial. Ele não é a ruína da democracia em Israel - esse navio já navega há muito tempo.

Isso não quer dizer que esta lei não seja ruim ou insignificante. É ruim porque codifica e institucionaliza os piores defeitos de Israel como nação. É ruim porque lança as bases para políticas e legislações mais discriminatórias contra os não-judeus. É ruim, porque no coração dela encontra-se um grande cinismo político, que favorece os eleitores nacionalistas antes das primárias do Likud e de uma eleição que está próxima.

Eu sinto falta dos racistas do passado, disse o CK do Balad (n.t. partido árabe da Knesset) Jamal Zahalka durante um debate na Knesset em 2008. Pelo menos eles não eram oportunistas que buscavam populismo barato. Essa semana Zahalka foi retirado à força do pódio do Knesset pelo vice-presidente do Parlamento, Moshe Feiglin, depois de chamar este de fascista”. Qualquer ato assim, contra os muitos CK judeus - os quais têm chamado os CK árabes e esquerdistas de “traidores“, “amantes de terroristas” e termos piores ao longo dos últimos anos - é impensável, obviamente.

Chaver Knesset Moshe Feiglin, do partido Likud

Chaver Knesset Moshe Feiglin, do partido Likud


Então não, o novo projeto de lei do Estado-nação não é o apocalipse. Israel tem sido um Estado judaico, com o passatempo de ser democrático, por muito tempo. Na verdade, isso deveria ser esperado por qualquer um que não fechasse os olhos para o comportamento de Israel nas últimas décadas.

Mas há males que vêm para o bem: o projeto de lei é tão flagrante, tão claro, que força mesmo os defensores mais árduos e cegos de Israel a abrirem os olhos.

Em outras palavras: bem vindos, judeus da diáspora, à Israel que vocês têm evitado. Por muito tempo, vocês têm defendido um Israel imaginário. O real se assemelha muito com o descrito no novo projeto de lei do Estado-nação.

Por muitos anos, o dinheiro, a influência e o apoio incondicional de judeus da diáspora, particularmente dos Estados Unidos, permitiu muitos dos comportamentos que contribuíram para esse egocentrismo arrogante, o qual fez os políticos israelenses acreditarem que podem fazer o que bem entenderem. Muito disso foi feito em nome de um Israel que nunca existiu, idealizado, um país judaico e democrático que poderia equilibrar suas duas identidades.

Agora que essa imagem está sendo revelada como a ilusão que verdadeiramente é, os judeus da diáspora podem usar sua considerável influência sobre a política de Israel para ajudar a trazer a democracia verdadeira.

Não será uma batalha fácil. Em seu discurso na Knesset na última quarta-feira, Netanyahu permaneceu inflexível sobre suas intenções de passar sua versão do projeto de lei, dizendo a seus detratoresem voz teatralmente chocada - Eu não entendo qual é o problema de vocês.

E, realmente, qual é o problema deles? Não é como se Netanyahu estivesse mudando algo. Ele está simplesmente levantando o véu.

Traduzido do original, publicado por Asher Schechter, no Haaretz, em 28/nov/2014.

Os compromissos de Rabin e os nossos

Entre 4 e 16 de novembro de 2014, acontece na sede do movimento juvenil Habonim Dror, em São Paulo, a “Exposição Rabin – Paz é Compromisso”. O conceito dessa mostra vai além de trazer conhecimento sobre a vida do ex-primeiro-ministro israelense. Há um objetivo muito claro em todo o percurso dos textos, figuras, sons e vídeos: para concretizarmos nossos objetivos de vida, temos de estabelecer compromissos, e ainda que dificuldades apareçam no caminho, deveríamos manter-nos fielmente comprometidos. A visita à exposição é gratuita e fortemente recomendada para todos.

Nesse artigo, ressaltaremos quatro compromissos inesquecíveis que marcaram o último estadista israelense e como trazê-los para nossa vida.

A família de Rabin e o compromisso com a coletividade

O pai, Nehemiah, nasceu com o sobrenome Rubitzov, na Ucrânia. Emigrou para os EUA e, lá, filiou-se ao movimento socialista judaico Poale Zion (trabalhadores de Sião). Imbuído de sionismo, fez Aliá como voluntário da Legião Judaica, para, na 1a Guerra, lutar com os britânicos contra os otomanos. Na Palestina do Mandato Britânico, Nehemiah também foi ativo na Haganá (organização paramilitar de defesa do Yishuv e base do futuro Exército Israelense) e na Histadrut (união dos sindicatos de trabalhadores judeus).

Rosa Cohen, a mãe, nasceu na Bielorússia. Desde jovem, engajava-se social e politicamente em sua terra natal. O avô materno de Rabin era ortodoxo e antissionista, mas isso não impediu Rosa de participar da terceira Aliá para Israel e assentar-se num kibbutz no Lago Kineret. Mudou-se para Jerusalém, onde conheceu Nehemiah e deu à luz a Yitzhak. Era membra do Conselho Municipal de Tel Aviv, da Haganá, do Mapai (partido político que originou o atual Partido Trabalhista), além de trabalhar com educação.

Rachel (irmã), Rosa e Yitzhak Rabin

O lar dos Rabin possuía compromisso permanente com voluntariado e participação na vida coletiva do Yishuv. Yitzhak absorveu esse compromisso de seus pais e levou-o a um patamar superior.

 A bolsa de estudos em Berkeley e o compromisso com a defesa do Yishuv

Rabin passou seus dois últimos anos de estudante na Escola Agrícola Kadoorie, situada na baixa Galiléia, próxima do Monte Tabor. Ele escreveu, depois, que lá aprendeu valores morais necessários, como honra, confiança e verdade. Ao formar-se, em 1940, obteve uma bolsa de estudos para cursar Engenharia Hidráulica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Ir estudar nos EUA era um antigo desejo, já que seu pai havia morado lá e lhe disse coisas muito boas sobre o país. Entretanto, a 2a Guerra havia começado e o medo de uma invasão nazista na região era grande. Para não abandonar seu compromisso com sua coletividade, seus amigos e sua terra, Rabin abdicou da bolsa e entrou na Palmach, o grupo de elite da Haganá.

Ele nunca obteve diploma universitário.

A conta corrente nos EUA e o compromisso com sua esposa e com a ética

Rabin foi embaixador de Israel nos EUA entre 1968 e 1973, quando retorna para sua terra. Em 1974, torna-se primeiro-ministro. Em 1977, o jornalista Dan Margalit, do periódico Haaretz, descobre que Rabin e sua esposa Léa mantinham duas contas-correntes ativas nos EUA, algo proibido pela lei israelense. No total, havia nelas 10 mil dólares depositados. Léa quis assumir a culpa, sozinha, por não tê-las fechado após retornarem de Washington para Jerusalém. Dada essa situação, Rabin não viu alternativa: deveria manter seu compromisso com a ética, com a honestidade e com sua esposa.

Por duas contas-correntes, por 10 mil dólares, ele renunciou à chefia do Estado de Israel e passou pela apuração do caso ao lado de Léa, como um cidadão comum.

Yuval Rabin (filho), Léa, Papa João Paulo II e Dalia (filha)

A Primeira Intifada e o compromisso com o futuro do Estado de Israel

Entre 1987 e 1993, milhões de palestinos foram às ruas de Gaza e da Cisjordânia para mostrar sua insatisfação com suas péssimas condições de vida, como indivíduos e como nação. Usando paus, pedras e estilingues, atacaram as forças de segurança israelenses. Ao longo de toda a Primeira Intifada, Rabin foi o Ministro da Defesa. Junto com boa parte da sociedade israelense, ele teve dificuldade para compreender a insurgência popular palestina; ordenou que fosse reprimida com violência, não proibiu o uso de munição letal e, alegadamente, comandou que os ossos dos palestinos fossem quebrados. Rabin mantinha firme, segundo seus métodos, seu compromisso com a segurança do Estado de Israel.

Rabin, o “quebra-ossos”

No entanto, em 1988, quando o Rei Hussein da Jordânia abdicou da Cisjordânia em favor dos palestinos, Rabin percebeu que deveria mudar de estratégia. Na 1a Intifada, o povo palestino lutou por seus objetivos sem depender dos demais Estados árabes vizinhos (Líbano, Síria, Jordânia e Egito). Após décadas acreditando que possíveis acordos seriam negociados com esses Estados, e que os palestinos seriam mero detalhe no cenário, a nova realidade gritava à sua volta. Israel deveria negociar com as lideranças palestinas se quisesse manter-se um Estado democrático e judaico. O compromisso de Rabin com o futuro do Estado de Israel passava, obrigatoriamente, por mantê-lo seguro e por iniciar tratativas políticas sérias e concretas com os palestinos.

Dessa mudança de métodos, resultaram os Acordos de Oslo e a paz com a Jordânia.

Da oposição radical à paz com os palestinos, resultou o assassinato de Rabin e, talvez, seu projeto de sionismo.

Rabin, o soldado da paz

Incitações, radicalismos, negações e o compromisso de cada um de nós com Israel

Nós, judeus da diáspora, fazemos doações a instituições judaicas, estudamos a História de Israel, denunciamos o antissemitismo quando o identificamos, celebramos feriados judaicos e fazemos Hasbará incondicional nas redes sociais. Estamos, indiscutivelmente, comprometidos com o Estado de Israel.

  • 95% dos israelenses acreditam que há racismo no país. As vítimas são negros, palestinos cidadãos de Israel, ortodoxos e sefaradim. Devemos estar, incondicionalmente, comprometidos com isso? NÃO!
  • O presidente de Israel, Reuven Rivlin, é alvo de campanhas de ódio e incitação à violência por parcela considerável da sociedade israelense, de forma terrivelmente similar a que Rabin sofreu. Nosso compromisso é, acima de qualquer crítica, com isso? NÃO!
  • As leis de casamento em Israel são profundamente discriminatórias. Temos compromisso automático com isso? NÃO!
  • 8% dos que se declaram judeus, em Israel, têm negados seus direitos a casarem-se, separarem-se e serem devidamente enterrados, devido ao excesso de poder conferido ao rabinato. Deve haver compromisso, sem reflexão, com isso? NÃO!
  • O governo israelense, por meio de políticas e declarações radicais, isola-se assustadoramente do mundo, especialmente dos EUA. Podemos nos comprometer, sem senso crítico, com isso? NÃO!

Optei, propositalmente, por não entrar no tema do conflito. As paixões nele envolvidas são incomensuráveis. Esse artigo é para despertar em você, judeu sionista da diáspora, o desejo de sair da sua zona de conforto, questionar suas verdades inquestionáveis, sua fé cega nas “notícias” que lê no Facebook ou recebe por e-mail. Aqui no Brasil, se não tomamos a iniciativa, só ficamos sabendo dos ataques terroristas. Ou não-terroristas, como o atropelamento que deu a gritaria de sempre mas, como descobriu-se depois, foi um acidente de trânsito com omissão de socorro. O nosso compromisso com Israel é, sim, incondicional, no sentido que queremos que o país exista e o povo judeu tenha lá um lar.

No entanto, comprometer-se com racismo não é um compromisso sionista. Nem com ódio contra opiniões divergentes. Nem com discriminação religiosa. Nem com a existência de cidadãos de segunda classe, com menos direitos que os demais. Nem com a recusa infantil e automática de qualquer crítica, e a imediata desqualificação da crítica como antissemitismo. Isso não é sionismo. O compromisso não deve ser com isso, mas sim com um Estado de Israel democrático, judaico, inclusivo e que trate todos seus cidadãos e vizinhos de forma igualitária e humana. Informe-se, aprofunde-se, questione o que recebe e o que transmite. Promova uma mudança de métodos, como Rabin fez. Seu compromisso com Israel pode, hoje, ser um nó frouxo, que te fazem acreditar ser o único possível. Há outros jeitos mais sólidos, justos e humanos de amarrar-se com Israel.


O Fórum 18 está indo para Israel e Cisjordânia. Além de termos vagas para interessados, precisamos do seu apoio para que a viagem aconteça. Colabore! Fale com Rafaela Barkay:

rafaela@forum18.com.br

(11) 3082-5844

Sobre empatia e “o outro”

Essa conferência, do sociólogo estadunidense Sam Richards, possui mais de 1 milhão de visualizações. Nela, ele encoraja uma “troca de papéis” entre a platéia americana e dois personagens distintos (invasores chineses e insurgentes iraquianos).

Não parece algo tão difícil para nós, brasileiros, enxergar como seria estar na pele dos chineses, dos iraquianos ou dos próprios americanos, que passaram 8 anos no Iraque e perderam quase 5 mil jovens. Afinal, nosso país é pacífico com seus vizinhos, nossa última guerra aconteceu há mais de um século, não sofremos com ataques aéreos de “drones” ou homens-bomba… Não temos os medos e os traumas deles.

Agora transporte esse exercício para o conflito entre israelenses e palestinos. Tente entender, genuinamente, como se sentem esses personagens (não tão) hipotéticos:

– Mulher israelense, judia, 60 anos, residente de Tel Aviv. Defendeu Israel na Guerra de Yom Kipur, em 1973, onde viu amigos e conhecidos serem mortos. Sua mãe é refugiada do Holocausto e seu pai foi morto no campo de extermínio de Majdanek, na Polônia. Um de seus netos serve ao Exército, protegendo o assentamento de Kiryat Arba, em Hebron.

– Homem palestino, muçulmano, 25 anos. Nasceu em Gaza e nunca saiu desse lugar. Amigos seus estão engajados na resistência armada, alguns mortos em combate nesta última guerra. Seu bairro foi alvo de bombardeios israelenses, onde famílias inteiras de vizinhos foram mortas. Seu avô e sua avó maternos foram expulsos de Haifa em 1948.

Se a leitora e o leitor quiserem deixar impressões e comentários no espaço abaixo, fiquem à vontade. O importante é chegar o mais perto possível de sentir o que essas pessoas sentem, especialmente quando fala-se de liberdade, segurança, ocupação e terrorismo. Isso é empatia, um item mais em falta nesse assunto do que chuva em São Paulo.


Teste do quociente empático (em inglês)
Teoria da empatização – sistematização (em inglês)

Fracasso e esperança (parte 3)

Nas partes anteriores do artigo (um e dois), foi demonstrado que operações militares extensas não podem eliminar o terrorismo do Hamas, assim como o assassinato ou a prisão de seus membros também seguirão fracassando. As sucessivas empreitadas israelenses, por meio desses métodos, acabaram por ter o efeito oposto ao desejado. O Hamas passou de um grupo marginal e minúsculo (Sheik Yassin e outras seis pessoas fundaram o grupo em dezembro de 19871) para uma força bem armada de milhares de membros, com capacidade de fechar o aeroporto Ben Gurion por dois dias, foguetes que podem alcançar as principais cidades israelenses e causador de um abrupto esvaziamento populacional do sul de Israel. Na atual Operação Margem Protetora, o governo e o exército israelense empregaram exclusivamente os métodos acima para combater o Hamas. O resultado foi o esperado.

Ainda no contexto da pesquisa da RAND sobre como eliminar o terrorismo, antes de analisar a alternativa restante – pacificação e adesão ao processo político – é indispensável ressaltar três verdades frequentemente esquecidas ou negadas.

  1. O Estado de Israel existe, é permanente e indestrutível; por mais que self-hating jews, antissemitas, antissionistas ou qualquer pessoa com senso crítico questione a legitimidade e a necessidade de Israel existir, isso não fará com que o país desapareça.
  2. A nação palestina existe, tem direito ao seu Estado e não abandonará a resistência enquanto não atingir esse objetivo; a narrativa de negação desse fato, bradada por radicais e ignorantes, é inútil e prolonga, artificialmente, uma situação passageira.
  3. A convivência pacífica e igualitária entre o povo judeu e o povo palestino é inviável num mesmo Estado. Diversos traumas, preconceitos e sentimentos negativos estão incrustados permanentemente no imaginário coletivo de ambos. Isso não implica em limpeza étnica; minorias de um povo poderiam habitar o Estado do outro, desde que tenham o seu próprio Estado nacional constituído, pronto para recebê-los se necessário.
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Ehud Barak, Madeleine Albright e Yasser Arafat em Camp David

Com essas premissas, as quais já deveriam ter sido encaradas com seriedade por todos os envolvidos no conflito, a pacificação do Hamas acontecerá no contexto da criação do Estado soberano da Palestina, ao lado do Estado de Israel. A evolução histórica nessa direção vem acontecendo com coerência. Nas negociações de paz entre Egito e Israel, em 1978, Anwar Sadat exigiu que Menachem Begin fizesse concessões para um futuro Estado palestino; o israelense julgou a demanda ridícula. Em 1988, o Rei Hussein da Jordânia transfere para a OLP de Arafat o pleito pelo território da Cisjordânia; assim, a Palestina deveria ser criada com base nesse território e em Gaza. Rabin, nos acordos de Oslo, deu passos indubitáveis para a solução de dois estados, como a evacuação de Gaza, a criação de uma força policial palestina e a auto-administração palestina (parcial ou total) em 27,8% da Cisjordânia. Finalmente, na Cúpula de Camp David do ano 2000, Ehud Barak fez uma oferta que, apesar de incompleta e repleta de problemas, culminaria na criação do Estado da Palestina. Dali em diante, todas os planos e rodadas de negociação tiveram como objetivo a solução de dois estados. Em adição a essa evolução, a opinião pública reitera qual a solução que ambas as nações querem. Mesmo sem nenhuma iniciativa significativa desde 2007, israelenses e palestinos seguem favoráveis à solução de dois estados.

O caminho para a paz e o fim do terrorismo palestino é longo. A pesquisa da RAND classifica os objetivos do Hamas como sendo principalmente nacionalistas, mas também religiosos; em adição a isso, na página 15 da mesma pesquisa:

…grupos terroristas motivados por objetivos nacionalistas e religiosos duram mais. Tipicamente,  possuem fontes sólidas de suporte na população local da mesma etnia que eles (…)

Por isso, a sociedade israelense e seus líderes precisam estar dispostos a fazer concessões, abandonar preconceitos e medos ao longo do trajeto e manter os extremistas sob controle. Estes são organizados e violentos e tentarão sabotar o processo, como já foi feito antes. Abandonar a caminhada antes do fim trará mais desilusão e pessimismo, como facilmente observa-se hoje em Israel e entre os palestinos. Por isso, é importante abordar as mudanças de postura e de política que Israel precisa realizar, se pretende chegar ao fim desse percurso e ver-se livre de morteiros em kibbutzim, ataques suicidas em pizzarias ou em discotecas. Tais mudanças não trarão, isoladamente, o resultado esperado; os palestinos precisam, também, realizar muitas concessões e corrigir inúmeros erros que vêm sendo cometidos. Mesmo assim, e por ser muito mais desenvolvido e forte que os palestinos, o Estado de Israel precisa concentrar todo seu poder na realização desse projeto. Após dezenas de anos de conflito, o desejo de resolvê-lo é quase uma premissa, para as maiorias das populações, para melhorar suas condições de vida. Se os palestinos não estivessem interessados em fazer a paz, a iniciativa israelense certamente despertaria esse desejo.

De acordo com a pesquisa da RAND, na página 16,

…grupos terroristas tendem a durar mais em países pobres. (…) um caminho para eliminar o terrorismo é melhorar a condição econômica de países onde o terrorismo é comum.

Economicamente, Gaza é terra fértil para o crescimento do terrorismo. De acordo com as estatísticas disponíveis, a taxa de desemprego bate em 45,1%, a pobreza atinge 59,9% da população e o Produto Interno Bruto real (descontada a inflação) está estagnado desde 1996. Para o terrorismo palestino, especialmente do Hamas, ver-se sem apoio ou justificativa entre a população, Israel precisa cooperar com a desenvolvimento econômico de Gaza. Isso passa, obrigatoriamente, pelo fim gradual do bloqueio e pela reconexão da economia de Gaza com o resto do mundo. Os 7 anos do fechamento desse território causaram a piora das condições econômicas da população local. Os méritos pelo fim do bloqueio e o desenvolvimento econômico devem ser explicitamente atribuídos às negociações, aos palestinos moderados e ao processo de paz, e não à violência do Hamas. O governo israelense precisa passar a mensagem correta aos palestinos: moderação e autocontrole geram ganhos, enquanto violência e terrorismo geram perdas.

Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço militar do Hamas

Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço militar do Hamas

Tão importante quanto o desenvolvimento econômico da Faixa de Gaza é a interrupção do crescimento dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, para que sejam devolvidos aos palestinos no curso do processo de paz. Desde antes da conquista desse território – um resultado não esperado da surpreendente Guerra dos Seis Dias2 – diversos personagens centrais ao sionismo ressaltaram o quão errado seria levar judeus para construir e habitar na Judéia e na Samaria: Ya’akov Shimson Shapira³, Pinhas Sapir³, Yeshayahu Leibowitz e David Ben Gurion4. Em essência, aqueles que assentavam em 1967 julgavam dar continuidade ao sionismo de 1948, quando uma nação agia corajosamente, desafiando leis e atores hostis, para conseguir estabelecer-se e erigir seu Estado. No entanto, em 1967, o Estado de Israel já existia, era reconhecido pela comunidade internacional, possuia exército, leis e governo; a elite política e os novos colonizadores falharam em fazer a passagem de “revolução” para “instituição”, de “movimento nacional” para “Estado”. Se, antes, assentar era um método para estabelecer um Estado, veio por metamorfosear-se em um objetivo em si, santificado por uma minoria religiosa judaica e erroneamente legitimado pelo governo israelense.

Um dos propósitos dos assentamentos é evitar o surgimento do Estado da Palestina. Quando foi chefe do Comitê Ministerial de Assentamentos, no fim dos anos 70, Ariel Sharon criou e fez crescer muitos assentamentos na Cisjordânia, com o intuito de separar cidades palestinas e criar facts on the ground5. Entre 1993 (acordos de Oslo) e 2000 (2a Cúpula de Camp David), o número de judeus na Cisjordânia – excluída Jersualém Oriental – foi de 116 mil para 198 mil6, um aumento de 70%; para efeito de comparação, a população total de Israel cresceu somente 33% entre 1990 e 2000. Quanto maior essa população, mais difícil torna-se a devolução dessa terra aos palestinos.  Para defender a existência dos assentamentos, usa-se também o argumento de que a desocupação desse território aumentaria a insegurança do Estado e colocaria em xeque a existência de Israel. No entanto, os assentamentos são um fardo extra para o Exército israelense, que precisa defendê-los; durante o ataque sírio na Guerra de Yom Kippur, assentamentos nas colinas do Golan tiveram de ser evacuados ao mesmo tempo que tanques de Hafez al-Assad eram repelidos7. A evacuação de Gaza, ordenada por Ariel Sharon em 2005, encaixa-se nessa lógica como o negativo de uma foto; a cessão abrupta e unilateral serviu para proteger o projeto dos assentamentos como um todo, e colocou colonos e o Exército israelense em confronto. Dov Weisglas, um dos conselheiros mais próximos de Sharon, descreveu a evacuação como

…a quantidade apropriada de formaldeído (para embalsamar o Roadmap para a paz dos EUA) para que não haja um processo diplomático com os palestinos8.

Após o fim da Operação Margem Protetora, o Hamas veio a público relembrar a todos de sua intransigência e de seu propósito de libertar a Palestina, eliminando Israel. Concomitantemente, o atual governo israelense confiscou terras palestinas na Cisjordânia, enfatizando sua indisponibilidade para entrar em qualquer processo de paz. Os terroristas reiteraram que não são um parceiro para um processo diplomático, enquanto as lideranças israelenses seguem inculcando em seus cidadãos a mentirosa ideia que o fim do terrorismo deve vir antes das negociações serem iniciadas. O pessimismo das populações é plenamente justificado: a violência na região seguirá, já que o ódio palestino e o cinismo israelense determinam as movimentações políticas. No entanto, o cenário sombrio e a falta de perspectiva não puderam e não poderão afetar os desejos mais profundos dos sofridos civis da região: o encerramento do terrorismo e da violência são partes, e consequências, da paz entre os povos e da criação do Estado da Palestina. Ao contrário do que propagam governantes israelenses e de Gaza, não são pré-requisitos, mas sim resultados.


1 – MORRIS, Benny. Righteous Victims: A History of the Zionist-Arab Conflict, 1881-2001. New York: Vintage, 2001, p. 577

2 – GORENBERG, Gershon. The Unmaking of Israel. New York: Harper Perennial, 2012, p. 61

3 – idem, p. 66

4 – idem, p. 28

5 – idem, p.69

6 – idem, p. 108

7 – idem, p.81

8 – idem, p. 115


1a parte
2a parte

Fracasso e esperança (parte 2)

Na primeira parte do artigo, foi comprovada a ineficácia das operações militares israelenses para encerrar, definitivamente, a resistência terrorista palestina. O enfrentamento do Hamas e de outros grupos trouxe vitórias para Israel; no entanto, pontuais e de curto prazo. Essa descoberta não surpreende, já que a pesquisa da RAND previu as escassas chances, considerando o histórico desde 1968, de um grupo terrorista cessar suas atividades como resultado direto de uma guerra. Análises (1, 2, 3) indicam que o Hamas deve sair fortalecido da atual operação, como já havia sido previsto. Nesta segunda parte, será analisada a eficácia de prisões e mortes de lideres do Hamas, por meio de ações especificas e sem engajamento militar extenso. Importante ressaltar que a pesquisa da RAND aborda somente o fim definitivo e incondicional do terrorismo, desconsiderando pausas temporárias, tréguas ou atentados pontualmente evitados.

O primeiro inimigo israelense eliminado por “assassinato seletivo”, em 1956, foi Mustafa Hafez, Diretor de Inteligência egípcio na Faixa de Gaza. Desde então, o número de pessoas (palestinas ou nacionais de outros Estados) mortas por Israel, usando esse método, é maior que 200. A Organização Não-Governamental israelense B’Tselem estima que, entre o início da Segunda Intifada (29/set/2000) e o fim de 2010, 239 combatentes palestinos foram mortos por sikul memukad (“prevenção focalizada”), que é a expressão utilizada em Israel para fazer referencia a esta prática. No que tange a prisões, a última estatística oficial (Maio de 2014) apontava 6366 palestinos nas prisões israelenses, sendo 5053 por questões criminais e de segurança e os demais 1313 por presença ilegal no país.

Israel foi, em geral, bem-sucedido quando buscou matar os personagens do Hamas. Entre as vitimas fatais de renome, destacamos: Yahya Ayyash (principal desenvolvedor de bombas e foguetes); Salah Shehadeh (chefe do braço armado); Ismail Abu Shanab (oficial de alto escalão, considerado pragmático e moderado); Ahmed Yassin (fundador e líder espiritual); Abdel Aziz al-Rantisi (fundador e chefe do braço político); Adnan al-Ghoul (líder do braço armado e criador do foguete Qassam); Nizar Rayan (clérigo fundamentalista); Said Seyam (Ministro do Interior); e Issa al-Batran (líder do braço armado e fabricante de bombas e foguetes). Houve, entretanto, um famoso caso de retumbante fracasso. A tentativa de envenenar Khaled Meshaal na Jordânia, em 1997, por ordem do então primeiro-ministro Bibi Netanyahu, resultou em dupla crise diplomática com o Rei Hussein e o presidente estadunidense Bill Clinton. Bibi forneceu o antídoto para o veneno e foi pessoalmente à Jordânia, desculpar-se perante o Rei. Meshaal sobreviveu e foi alçado, entre os palestinos, à categoria heroica de “mártir vivo”.

O Hamas é um movimento islâmico popular, que recruta a maioria de seus membros de famílias pobres. No intuito de agradar seus apoiadores, mantém uma estrutura de filantropia e caridade, especialmente para a população de Gaza. A pesquisa da RAND, na página 39, explica:

A maioria dos grupos terroristas (…) precisa de uma base de apoio, a qual forneça suporte material, como dinheiro, esconderijos e recrutas. Eles também precisam de um ambiente hospitaleiro para sobreviver.

Nesse sentido, é importante analisar se e como os assassinatos seletivos e prisões de líderes do movimento alteraram a evolução do apoio oferecido pela população.popularidade hamasA primeira eliminação sofrida pelo Hamas, em janeiro de 1996, foi Ayyash, “O Engenheiro”. Analisando o gráfico, nota-se que exatamente nessa época o grupo observou forte declínio em sua popularidade, entre setembro de 1995 (16,6%) e março de 1996 (5,8%). No entanto, são os eventos anteriores e posteriores ao sikul memukad de Ayyash que explicam a piora na imagem do Hamas. Em julho e agosto de 1995, o Hamas executou dois atentados suicidas, matando onze israelenses. Em setembro, foi assinado o acordo de Taba entre Israel e OLP, no curso das negociações de paz de Oslo. Pesquisas de opinião apontavam que o acordo de Taba era apoiado por 72,1% do público palestino e que 85% votariam, nas eleições, em candidatos que apoiassem o processo de paz. Os atentados do Hamas foram vistos, por uma população momentaneamente moderada, como prejudiciais a esse processo, o que explica a perda de apoio observada.

Os assassinatos seletivos e prisões seguintes não influenciaram negativamente a imagem do grupo fundamentalista perante os palestinos. A Segunda Intifada, entre setembro de 2000 e fevereiro de 2005, foi o cenário da execução de dezenas de membros do Hamas, especialmente dos grandes líderes citados acima. Ademais, entre janeiro de 2001 e janeiro de 2006, o número de prisioneiros palestinos em Israel aumentou 467%. Apesar disso, desde meados de 1996 pelos 10 anos seguintes, a popularidade do Hamas cresceu solidamente, atingindo 37,7% em março de 2006. A queda observada na sequência não foi motivada por prisão ou sikul memukad de membros, mas sim pelo confronto com o grupo rival Fatah e, na tendência que segue até hoje, pela má percepção da administração desse território.

Outro aspecto a ser analisado é o operacional, ou seja, quão prejudicada fica a capacidade de ataque do Hamas após seus líderes serem presos ou mortos. Trabalho publicado em 2006 pelo College of William and Mary analisou o número de atentados terroristas, e as vítimas resultantes, antes e após os assassinatos de Salah Shehade e Sheik Ahmed Yassin. O insucesso israelense está assim descrito:

a questão é (…) se a morte de Shehade contribuiu para a redução de ataques terroristas contra israelenses; a estatística não gera essa conclusão. A estatística mostra que (…) o número de israelenses mortos cresceu, assim como a quantidade de ataques.

falando da execução de Yassin:

terrorismo não foi evitado, já que os ataques aumentaram em número. (…) Ademais, se um dos objetivos de eliminar líderes espirituais é acabar com a motivação de uma organização terrorista, então esse método foi um claro fracasso, tendo em vista que a motivação permaneceu alta.

200 mil palestinos no funeral do Sheik Ahmed Yassin em Gaza

200 mil palestinos no funeral do Sheik Ahmed Yassin em Gaza

Outro estudo, publicado pelo Strategic Studies Institute do Exército dos EUA em dezembro de 2008,  é mais abrangente, pois elenca os assassinatos seletivos entre as diversos métodos israelenses no combate ao terrorismo palestino. Ainda que associe-se a prática de sikul memukad a diversas outras (fora do foco da pesquisa da RAND), e ainda que conceda-se vitórias momentâneas ao contraterrorismo israelense, o longo prazo é inexorável:

Israel atingiu vitórias significativas em sua guerra contra os palestinos, ao fazer uso de assassinatos seletivos de lideranças; boicotes; cortes de eletricidade; ataques e detenções preemptivas; e punições a famílias, parentes, bairros (etc.) de militantes. Sua lógica contraterrorista baseia-se em reduzir a capacidade organizacional dos insurgentes. (…) No entanto, um advogado da causa admitiu que Israel não havia “vencido o ímpeto de resistência” [dos palestinos]. Essa confissão sugere que(…) os palestinos, apesar de todos os esforços feitos para enfraquecê-los e incriminá-los, para desencorajar ou prevenir seus apoiadores árabes não-palestinos de defender seus interesses, (…) poderiam gradualmente puxar os israelenses de volta a negociações abrangentes, ou insurgir-se contra eles. Moshe Sharett, o segundo primeiro-ministro de Israel, questionou: “Será que as pessoas consideram que, quando reações militares superam a severidade dos eventos que as originaram, graves processos são iniciados, os quais alargam o fosso e forçam nossos vizinhos ao extremismo? (…)”

O Hamas foi criado, em dezembro de 1987, como um movimento de resistência, adepto do terrorismo e contrário à forma como a OLP secular conduzia o relacionamento com Israel. Em 1996, o sikul memukad de Yahya Ayyash mostrou que o Hamas passara a ser uma preocupação relevante para a segurança israelense. Seus abomináveis ataques suicidas, sua violenta participação na Segunda Intifada e sua capacidade de expulsar as forças da Autoridade Palestina de Gaza, em 2007, mostram que o grupo ampliou seu poderio bélico, a despeito das ações israelenses. Sua popularidade cresceu continuamente, levando-o a um excelente resultado nas eleições de 2006. Desde 2007, Gaza é controlada pelo Hamas; por isso, Israel impôs um cerco estrangulador ao território, visando causar danos ao grupo, ainda que gerando intenso sofrimento à população civil. Mesmo assim, o Hamas conseguiu provocar diversos ataques do Exército israelense (culminando na atual Operação Margem Protetora), determinando os rumos da política de segurança e defesa de Israel desde a pacificação da OLP.

Não resta prova, após esse segundo texto, que um exército poderoso ou serviços de inteligência letais são, ainda que usados juntos,  ineficazes para dar fim ao terror do Hamas. Na sequência, serão abordadas as possibilidades desse objetivo ser concretizado por meio de pacificação e adesão ao processo político.


1a parte
3a parte

Fracasso e esperança (parte 1)

A operação Margem Protetora, iniciada por Israel em 8 de julho, tem seu objetivo declarado: fazer com que o Hamas e seus similares (Jihad Islâmica, Frente Popular para Libertação da Palestina, Comitês de Resistência Popular) sejam suficientemente enfraquecidos, a ponto de não mais atacar a população israelense – ao menos por algum tempo.

O termo mais popular para definir esse objetivo, constantemente ouvido de personagens políticos e militares israelenses, é “silêncio” ou “calmaria” (sheket em hebraico). No dia em que ordenou o início da última operação, o primeiro-ministro Bibi Netanyahu fez uma declaração ao povo, por meio dos canais de televisão, onde enfatizou:

“estamos agindo para (…) retornar ao silêncio, e continuaremos (…) até que o silêncio retorne”.

Desde a Segunda Intifada, ocorrida entre 2000 e 2005, os primeiros-ministros israelenses têm realizado sucessivas operações militares para combater o terrorismo palestino, sempre declarando estar em busca de “calma”. Em 2012, na operação Pilar de Defesa, o Ministro Yuval Steinitz citou a necessidade de “silenciar” Gaza. Na Operação Iemei Teshuvá (“Dias de Penitência”), empreendida pelas Forças de Defesa de Israel entre Setembro e Outubro de 2004, já se pretendia, segundo reportagem do jornal Haaretz,

“interromper o lançamento de mísseis Qassam à cidade de Sderot e à região do deserto do Neguev”.

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Entre 2004 e 2014, Gaza, o Hamas e os demais grupos terroristas palestinos foram alvo de 8 grandes operações militares israelenses, sendo que o propósito de todas envolveu a busca de “silêncio” e “calma”. Não há mais como evitar uma óbvia conclusão: Israel falhou em atingir seus objetivos. As estratégias empregadas fracassaram e seguirão fracassando. Afinal, a meta de 2004 continua sendo a meta de 2014; Grads e Qassams ainda voam em direção a Ashdod, Ashkelon e Beer Sheva. Após o fim da Margem Protetora, não esperaremos muito até ouvirmos novas sirenes, corrermos para abrigos e esperarmos o terrível som dos foguetes estourando nas redondezas. Então, como conseguir “calma” em definitivo?

O think-tank estadunidense RAND foi atrás dessa resposta. O RAND foi criado após a 2ª Guerra, inspirado no sucesso do Projeto Manhattan – que criou a primeira bomba atômica. Por lá passaram pensadores como John Nash, Henry Kissinger e Condoleezza Rice, e diz-se que lá iniciou-se a criação da Internet, dos satélites da NASA e dos computadores modernos.

Em 2008, no calor do embate entre os Estados Unidos e o grupo terrorista islâmico Al-Qaeda, pesquisadores do RAND se perguntaram: como acabar com grupos terroristas? Como esses grupos deixam de existir, ou deixam de praticar atos terroristas para atingir seus objetivos?

O RAND utilizou-se de métodos estatísticos, além de seu banco de dados com informações sobre 648 grupos terroristas que existiram no mundo entre 1968 e 2006. A pesquisa foi direcionada ao governo dos EUA, para orientá-lo a combater e vencer a Al Qaeda. Entre as diversas conclusões e descobertas do estudo de mais de 200 páginas, fica evidente como o contraterrorismo israelense seguirá falhando se mantiver sua política atual.

De acordo com o estudo, o fim de um grupo terrorista pode acontecer por 5 motivos:

  • pacificação e adesão ao processo político;
  • prisão ou morte dos membros do grupo por polícias ou agências de inteligência;
  • derrota frente a ofensiva (guerra) de exército nacional;
  • vitória ao atingir seus objetivos;
  • desagrupamento e adesão dos membros a outros grupos – neste caso os terroristas costumam seguir na ativa, o que o exclui como um fim para o terrorismo.

Os resultados são um (esperado) balde de água fria na estratégia israelense: em somente 7% dos casos a derrota em guerra, como a que Bibi realiza em Gaza, causou o fim do terrorismo. A pacificação é o fim mais freqüente (43%), seguido de perto pela atuação de polícias ou serviços secretos (40%). Nos demais 10%, os grupos enxergam seus objetivos cumpridos e encerram suas atividades.

O desfecho da operação Margem Protetora já é conhecido, pois assim foi desde o fim da Segunda Intifada: Gaza em ruínas, crianças do sul de Israel apavoradas pelas sirenes e pelo trauma, centenas de palestinos inocentes mortos, famílias israelenses chorando seus filhos perdidos em combate. Também veremos o Hamas declarando-se vitorioso, provavelmente ao mesmo tempo em que Bibi e seus ministros dirão que Gaza voltou ao “silêncio” e que Israel deu um forte golpe no terrorismo palestino. Até a próxima operação, a próxima ofensiva ou a próxima guerra.

As rotineiras tentativas de desmontar o aparato terrorista de Gaza, por meio de operações militares israelenses, falharam. Os foguetes chegando a Tel Aviv e Haifa comprovam que, apesar de empobrecido e isolado, o Hamas ampliou sua capacidade bélica e seu contingente. Entretanto, encerrar a análise por aqui não indicaria o caminho para que Israel veja-se, finalmente, envolto de “calma” e “silêncio”. Nos próximos artigos, nos aprofundaremos no estudo apresentado pelo RAND e no quanto Israel conseguiu – ou não – interromper o terrorismo palestino por cada um dos outros meios destacados – pacificação e processos políticos, ação policial e de inteligência.


P.S. – É problemático abordar o fim do terrorismo palestino sendo motivado pela sua vitória, tendo em vista que os diversos grupos possuem objetivos conflitantes e, às vezes, não claramente definidos. Tais objetivos variam desde um califado islâmico em toda a região, até um Estado palestino secular e democrático nas fronteiras de 1967. O Hamas declara em seu estatuto que busca erradicar o sionismo da Palestina e implantar um Estado fundamentalista islâmico; no entanto, seus líderes já se manifestaram a favor de uma solução de dois estados (veja aqui e aqui), ou seja, reconhecendo Israel. A Fatah, por outro lado, é um movimento secular que tem cooperado amplamente com Israel nos últimos anos. Finalmente, não passa pela cabeça de ninguém (são e consciente) a possibilidade de Israel deixar de existir, ou de os palestinos deixarem de buscar um Estado independente e soberano.


2a parte
3a parte

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