Como explicar o sionismo hoje, quando o nacionalismo lembra, para muitos, xenofobia, discriminação, opressão, autoritarismo ou até fascismo?
Celebrar o “orgulho de ser judeu” ou as “conquistas do estado judeu” não parecem uma provocação aos inimigos, uma ostentação de força militar e uma afirmação de “superioridade”?
Quem acha isso (judeu ou não-judeu) não entende a essência do sionismo.
Quando, em meio aos pogroms, perseguições, leis de Nurenberg e humilhações, alguns pensadores ousaram propor o restabelecimento da soberania judaica na Terra de Israel, essa ideia não era uma “afirmação de superioridade”, mas muito pelo contrário: o sionismo é um grito por igualdade.
Os primeiros sionistas perceberam que, se em muitos países os judeus têm dificuldades de se tornar cidadãos iguais, precisam criar seu próprio país para serem cidadãos plenos.
Se em outros lugares os judeus sofrem risco de expulsão, precisam de um lar que sempre os aceitará.
Se a contribuição cultural e espiritual dos judeus à humanidade era menosprezada e desvalorizada, num novo país o povo judeu daria a sua contribuição ao mundo como uma nação independente, vivendo em paz e igualdade ao lado das demais.
A própria ideia de um estado judeu mostra o quanto o sionismo sempre almejou a igualdade: espelhou-se nas ambições de outros povos – italianos, gregos, belgas etc – que encontraram na autodeterminação política o meio de exercer sua identidade.
E não uma forma de suprimir direitos de outros, como foi feito aos judeus na diáspora. Assim como é impensável negar aos judeus os direitos à igualdade civil e à soberania política, também é impensável negar esses mesmos direitos a outros povos ou minorias.
O sonho sionista é simplesmente esse: a construção de um país que seja o lar nacional do povo judeu, onde ele possa viver intensamente e com plenitude seus valores, sua cultura e sua língua hebraica, na terra onde se constituiu como povo, exprimindo sua diversidade numa sociedade forte, democrática, vibrante e plural, e em paz com seus vizinhos.
Ainda não estamos lá, e talvez ainda falta muito. A implementação do sonho sionista passou por guerras, crises, dificuldades, conflitos internos e externos. Mas, como disse Amós Oz, “a concretização de Israel só poderia ser uma frustração, pois a única forma de manter um sonho perfeito e ideal é nunca colocá-lo em prática”.
Israel não é perfeito – nem de perto.
Mas isso não nos impede de celebrar com alegria as numerosas conquistas desses 66 anos: de um pequeno país pobre, isolado e com a existência ameaçada por inimigos, para uma nação próspera, estável, vibrante, democrática, radicalmente multicultural, e em vários aspectos um exemplo para o mundo.
É o momento de celebrar os sucessos – na tecnologia, medicina, academia, música, infra-estrutura, o reflorestamento, os prêmios Nobel e até o falafel.
E ao mesmo tempo, é a oportunidade para pensar nos desafios que estão pela frente: a promoção de justiça social, a integração dos setores da sociedade, o fortalecimento da democracia, e, é claro, a paz com os palestinos e todos os países vizinhos.
Chag Atzmaut Sameach! חג עצמאות שמח
Feliz 66 anos para Israel, e que esse velho-novo país continue sempre trazendo orgulho para os judeus do mundo todo, desenvolvimento para seus cidadãos, progresso para a região e conquistas para a humanidade!
Que bom que vem um post lúcido, coerente e realista depois do post anterior deste blog.
Boa Reuben!