O designer gráfico e artista português Nuno Coelho esteve no Brasil para falar sobre a exposição de sua coautoria “Uma terra sem gente para uma gente sem terra” (ou “Uma terra sem povo para um povo sem terra”, na adaptação para o português brasileiro). A exposição e as palestras aconteceram na BibliASPA, centro de pesquisa localizado em Higienópolis que tem como objetivo promover a discussão entre povos árabes, sul-americanos e africanos.
A idéia da exposição, segundo Nuno Coelho, surgiu após (e não durante) sua viagem como voluntário para uma escola em um campo de refugiados não reconhecido pela UNRWA nos territórios palestinos. Ao regressar a Portugal, se deparou com a dificuldade de discutir a experiência que havia tido: no geral, o pouco conhecimento que se tinha sobre o conflito impossibilitava qualquer conversa mais aprofundada sobre sua vivência na Palestina. Decidiu, então, usar a arte e a interação como meios para promover questionamentos e introduzir as pessoas à trajetória do conflito.
A partir disso, Nuno e Adam Kershaw criaram painéis interativos – nada tecnológico, mas sim grandes folhas penduradas ao longo da exposição – que fossem ao mesmo tempo humorados, divertidos e didáticos. Em tais painéis se encontram instruções para ligar os pontos, colorir, desenhar, contar ou responder a perguntas, e a cada atividade resolvida há a seu lado as explicações do mapa ou imagem que surgiu.
Em um painel, por exemplo, há um mapa com diversos pontinhos, brancos e pretos. Ligando os pontos brancos, se tem a Linha Verde, representante da divisão internacionalmente reconhecida como limítrofe entre Israel e territórios palestinos. Ao se ligar os pontos pretos, entretanto, encontramos a linha onde está sendo construída a Barreira de Separação. Fica evidente a divergência entre as duas linhas. Ao final de um pequeno texto explicativo sobre os dois traçados, a conclusão: “Quando terminares, repara: que há regiões que ficarão, ou estarão já, totalmente isoladas; que a Cisjordânia, para além de reduzida a 59% de sua área total, ficará dividida em duas”.
A exposição já é polêmica e provocativa desde seu título. Apropriando-se ironicamente do jargão utilizado pelo movimento sionista no início do projeto nacionalista, os artistas deixam em aberto o questionamento: havia de fato uma terra abandonada na Palestina?