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Pensando relacionalmente o V Seminário Israel – Palestina: Narrativas em Jogo

O Seminário Narrativas foi, na sua quinta edição, novamente um sucesso. Bem organizado, bem representado, bem e complexamente aprofundado, e razoavelmente bem assistido. Mas a sensação que ficou para mim no voo de volta foi a de que está na hora dele ser novamente discutido. É o momento de nos perguntarmos, afinal, por que e, consequentemente, para quem servem estes encontros.

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Duas participações, algumas trocas de ideias, e a mera observação mostram que o seminário conversa unicamente com uma das parcelas de interessados no conflito israelo-palestino no Brasil. Falar apenas com um lado de um conflito, entre vários lados que existem, resulta no que está acontecendo (e não que isto seja ruim ou pouco): mais dúvidas, mais conhecimento, mais produção, mais integração – mas não resulta em avanços na resolução do conflito (ambicioso? Me pareceu esta a ideia mais aplaudida da iniciativa – e a noção de que devemos aqui no Brasil reproduzir o processo longo e doloroso do lado de lá do planeta, a menos popular). Seja na sua configuração prática do Oriente-Médio, seja em suas consequências no Brasil, o conflito se materializa nas universidades brasileiras, em outros espaços públicos, no imaginário popular. É importante sabermos que o conflito Israel-Palestina também pertence a todos os cidadãos do mundo. Levar o Seminário Narrativas para este novo nível significa movimentar-se para que pequenas atitudes ao nosso alcance possam ser pensadas, ou que pequenas iniciativas que já acontecem sejam conhecidas, ou que pequenos encontros que não acontecem passem a acontecer – e isto é transformar nossa realidade em busca de coexistência.

O conteúdo – narrativas – é mobilizador: ouvir os diversos discursos de um mesmo fato. A forma do seminário poderia estabelecer um compromisso maior com esta variedade de narrativas. A construção da iniciativa, os palestrantes e o público poderiam ser, também, vindouros de lugares diferentes. E isso implica nos perguntarmos, agora, para quem poderia servir esta iniciativa.

O pesquisador americano Michael Apple nos ensina a metodologia de análise relacional para entendermos e às vezes explicarmos a sociedade (1979). Entender quem se beneficia, que vozes são ouvidas e silenciadas, por que e como ocorrem os fatos sociais e estabelecer relações entre estas respostas pode nos mostrar novos caminhos para solucionar velhas questões. O conflito israelo-palestino, no Brasil também, é relacional, por isso, precisamos conversar sobre ele de forma relacional: onde se encontrar, com quem se encontrar, quem vai organizar o encontro e por que organizar são questões que tem de ser novamente (e constantemente) feitas e cujas respostas devem ser discutidas em conjunto.

Pensar relacionalmente também nos ajuda a estudar a questão da educação judaica, abordada na fala de Michel Gherman. O sionismo, a identidade judaica, judaísmo e política, judaísmo e sociedade, o conflito, são temáticas importante na escola e na educação formal judaica brasileira. Mas é importante lembrar que a crença de que a educação vai resolver todos os nossos problemas (e vale lembrar a mobilização nacional em torno do uso do dinheiro do pré-sal em educação), armadilha atraente, se mostrou uma proposta precipitada e insuficiente. Historicamente, o que se pode observar é que a educação (que é parte da sociedade) sempre respondeu ao que a sociedade em que está inserida demandou (Apple, 2013). Isto não significa que dinheiro em educação não é bem-vindo ou que os professores não tem de, em seus espaços, por menor que seja a sua autonomia, fazer esforços contra-hegemônicos por uma educação de mais qualidade (não qualidade no seu sentido mercadológico de ‘qualidade-total’, como se a posse de alguns significasse a não-posse de outros, mas no seu sentido sociológico de emancipação). Significa, de fato, e especificamente no caso das escolas judaicas, que a escola, como parte de uma comunidade, precisa mudar para que a comunidade mude. Porém, a transformação comunitária será resultado de um esforço no contexto comunitário amplo, ou corremos o risco de que os investimentos em educação sejam parcialmente ou totalmente incompreendidos. As questões de currículo, eficiência de gestão, qualidade do professor, são centrais – mas uma educação judaica crítica, alicerçada em justiça social, será realidade quando estes princípios forem o que realmente fizer sentido para a comunidade – e Gherman nos mostrou domingo que, salvas exceções cariocas, não é.  A transformação na educação passa por uma transformação na forma como a comunidade judaica se relaciona com a sociedade civil e especificamente com a comunidade palestina, na forma como se envolve com movimentos sociais, outras minorias, na forma como operam suas sinagogas (e aqui vale lembrar do seu sentido etimológico do hebraico de casa de discussão), enfim, passa por uma transformação que acontece em larga escala, e que tem que ser desejada, teorizada e compreendida, e simultaneamente colocada em prática. Uma transformação que pode continuar com o VI Seminário Narrativas em Porto Alegre, em 2014.

 Referências:

Apple, Michael (1979) Ideology and Curriculum. New York: Routledge & Kegan Paul.

Apple, Michael (2013) Can Educarion Change Society? New York: Routledge

Esquecemos as crianças da Síria?

Segundo novo relatório elaborado por investigadores das Nações Unidas”, nos últimos três anos as crianças sírias têm sofrido com assassinato, tortura, abuso sexual, detenções e recrutamento obrigatório. Sem contar com a condição geral de seu país. O novo Documento foi apresentado para o “Conselho de Segurança” na semana passada, quando representantes do Governo sírio e da oposição se reuniram na Suíça, sob os auspícios da ONU. É o primeiro estudo realizado propriamente sobre as consequências do conflito que ocorre no país para as crianças e abrange o período de março de 2011 a novembro de 2013.

Embora as “Nações Unidas” tenham condenado publicamente tanto o Governo quanto a Oposição na Síria de graves violações às crianças, este foi o primeiro relatório entregue ao “Conselho de Segurança”. Segundo a análise, mais de dez mil crianças já foram assassinadas e muitas estão feridas ou desapareceram. Em sua declaração a respeito do assunto, o “Secretário Geral da ONU”, Ban Ki-moon pediu aos dois lados do conflito para que protejam os direitos infantis. Segundo ele, o sofrimento das crianças sírias é “indescritível e inaceitável[1].

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A respeito da taxa de estupro, na fase inicial do conflito, quando começaram a ocorrer as manifestações para a derrubada do presidente Bashar al-Assad, a maior parte da violência sexual contra as crianças no país foi cometida por membros do Exército, serviços de inteligência e milícias a favor do Governo. Após este período, com o aumento da luta armada, os grupos de oposição se tornaram mais organizados e passaram também a cometer um maior número de estupros em crianças.

Quando falamos aqui de violência sexual, não se refere somente ao ato de estuprar uma criança. Segundo o relatório entregue ao Conselho de Segurança”, crianças foram presas e detidas com adultos, mal tratadas e torturadas por forças do governo em campanhas de aprisionamento, que foram intensas ao longo de 2011 e 2012. Nestas situações, uma série de abusos sexuais ocorreram e, de acordo com o relato de testemunhas, a agressão em relação às crianças incluiu o espancamento com cabos de metais, chicotes e bastões de madeira e metal, choques elétricos nos genitais, violência sexual – estupros e ameaças de estupros – ameaça e simulação de execuções, privação de sono, queimaduras com cigarros, confinamentos em solitárias e exposição à tortura de parentes. As testemunhas ainda afirmam que este tipo de violência, incluindo a sexual, foi usada para forçar confissões ou pressionar algum familiar a se render.

Semana passada, em Genebra, o Governo sírio negou qualquer detenção de crianças. O vice-chanceler Fayssal Mekdad acusou as forças de oposição de sequestro, sumiço e assassinato de crianças. De acordo com os investigadores da ONU, não foi possível corroborar as alegações de violência sexual infantil por parte da oposição, por falta de acesso a informações necessárias[2].

Outro relato grave reportado pelo documento das Nações Unidas refere-se ao recrutamento – muitas vezes compulsório – de crianças por parte de organizações rebeldes. Dentre elas, o Exército Livre da Síria”, apoiado por muitos países do Ocidente. Grupos da oposição utilizam as crianças para posições de apoio e de combate, em sua maioria garotos entre 12 e 17 anos de idade. De acordo com o relatório, nos últimos três anos meninos desta faixa etária, principalmente, foram treinados e armados para combater ou para vistoriar checkpoints.

O relatório adiciona que muitas das adesões não forçadas aos grupos armados foram incentivadas pela perda de seus pais ou outros familiares. Além disso, a pressão por parte de parentes e comunidades, junto com a mobilização política que tomou o país, serviram de forte estímulo para o envolvimento de crianças ao “Exército Livre da Síria” e outros grupos filiados.

Os investigadores da ONU não reportaram ter encontrado documentos formais a respeito do recrutamento de crianças por parte das “Forças Armadas” do Governo. No entanto, foi relatado que tropas do Exército e grupos de milícia a favor do presidente Assad intimidaram e apreenderam jovens garotos para servir em checkpoints e em incursões armadas. Alguns destes jovens, abaixo dos 18 anos.

Ainda de acordo com a análise entregue às Nações Unidas”, milhares de crianças foram mortas, torturadas e mutiladas ao longo dos últimos três anos na Síria. Uma das grandes questões – se é que se pode enumerar questões frente à tamanha desgraça em pleno século XXI – é que este tipo de atrocidade não tem um único responsável. As crianças sofrem e morrem durante ataques aéreos por parte do Exército, protestos contra o atual Governo, por armas químicas e embates armados. A violência infantil é perpetuada pelos dois lados do conflito – Governo e grupos de oposição. Os investigadores afirmam, ainda, que possivelmente as organizações rebeldes realizaram uma série de execuções.

Muitas crianças também foram utilizadas como escudos humanos em choques entre os grupos conflitantes e centenas morrem pela fome e em decorrência da baixíssima condição de vida existente atualmente na maior parte do país.

As “Nações Unidas” não esclareceram quais os tipos de documentos ou os métodos utilizados pelos investigadores em tal análise. A representante especial de Ban Ki-moon para crianças e conflitos armados, Leila Zerrougui, irá atualizar diplomatas a respeito do relatório na próxima semana.

A compreensão de que esta é uma realidade atual e bem conhecida pelo cenário internacional é muito difícil. Enquanto mais de dez mil crianças já foram assassinadas na Síria – de forma brutal – e outras continuam sofrendo com exatamente as mesmas acusações trazidas por tal relatório da ONU, nada de efetivo está sendo feito por parte dos países que assistem a este cenário indescritível de desumanidade. Críticas são feitas, milhares de análises e artigos como este são escritos ao redor do mundo, mas as crianças e toda a população da Síria necessita urgentemente de atitudes mais enfáticas.

Diante do quadro, questiona-se até quando se estudará os genocídios, as guerras, os assassinatos em massa na história que nos assustam e não se aprenderá nada com isso? Pior, se deixará que eventos como estes – com suas especificidades – se repliquem no presente. Enquanto governantes da maior importância se limitam a repreender tanto Governo quanto Oposição, uma série de organizações não-governamentais em diversos locais têm se mobilizado para tentar auxiliar com ajuda humanitária e recursos primários. Porém, como tem sido ressaltado pela comunidade internacional, já é passada a hora de o mundo agir de fato e de forma oficial para que o massacre que acontece atualmente em relação a crianças, jovens, adultos e idosos – homens e mulheres – termine de vez. Os observadores passivos de um conflito estão fazendo uma escolha. Todos os países têm, hoje, responsabilidade pela situação na Síria.

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Imagem (Fonte):

http://worldnews.nbcnews.com/_news/2013/03/13/17294280-children-shot-at-tortured-and-raped-in-syria-report-says?lite

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Fontes consultadas:

[1] Ver:

http://www.huffingtonpost.com/2014/02/04/un-report-syria-child-abuse_n_4725833.html

[2] Ver:

http://www.nytimes.com/2014/02/05/world/middleeast/at-least-10000-children-killed-in-syria-un-estimates.html?_r=0;

Ver também o “Relatório das Nações Unidas”:

http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N13/627/07/PDF/N1362707.pdf?OpenElement

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Ver ainda:

http://www.theguardian.com/world/2014/feb/05/syria-children-maim-torture-assad-forces-un

http://english.alarabiya.net/en/News/middle-east/2014/02/05/U-N-report-details-unspeakable-suffering-of-Syrian-children.html

http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-26046804

http://www.aljazeera.com/news/middleeast/2014/02/un-decries-child-abuse-syria-2014253588210756.html

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Texto publicado originalmente no blog Oriente Médio Hoje.

Este e outros textos da autora podem ser conferidos em http://www.jornal.ceiri.com.br/author/carla/

“É hora de tentar transformar estas discussões em algo prático no cotidiano destas comunidades judaicas”

No dia 10 de novembro de 2013, o Fórum 18 realizou na sede da Bnai Brith em São Paulo o “V Seminário Israel – Palestina: Narrativas em Jogo”. O seminário seguiu um formato parecido com o das edições anteriores: quatro mesas para tratar sobre temas ligados ao conflito, considerando sempre um bom tempo para discussão com o público presente. Algumas novidades na dinâmica de cada mesa foram incorporadas, e um público de aproximadamente 60 pessoas contava com a presença de jovens de outros estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o que contribuiu fortemente para o debate sobre as diferentes realidades que vivem as comunidades judaicas no Brasil.

 A primeira mesa do seminário foi composta pelos professores Mohamed Habib (Unicamp) e Samuel Feldberg (USP) e tratou do tema “20 anos de Oslo: perspectivas para o futuro”. A fala iniciada pelo professor Mohamed Habib trouxe uma perspectiva motivadora e esperançosa para iniciar o longo domingo; Mohamed começou sua fala fazendo um breve histórico sobre o conflito, e lembrando suas antigas participações em debates neste estilo sediados pela própria Bnai Brith no passado. A fala sustentou a importância de não classificar a solução do conflito como uma causa perdida. O professor Samuel Feldberg, por sua vez, assinou embaixo a fala de Mohamed trazendo algumas questões pontuais a serem desenvolvidas acerca do histórico do conflito.

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O seminário seguiu com uma novidade no formato da mesa: apenas um professor convidado, utilizando o tempo que normalmente é destinado a dois palestrantes. A proposta foi trazer o professor a UFRRJ, Luís Edmundo de Souza Moraes, para tratar de um tema delicado, mas que é sua especialidade, o “Antissionismo e o Antisemitismo”. A fala de Luís Edmundo trouxe a tona às diversas interpretações e confusões que se fazem destes termos dentro do universo do conflito, e esclareceu a importância de um uso correto destas concepções dentro deste debate.

O terceiro momento do seminário seguiu o exemplo de sucesso testado durante o IV Seminário que ocorreu na sede do Hilel (Rio de Janeiro) em Maio: trazer para a mesma mesa representantes de diferentes movimentos juvenis. O tema tratado aqui era “Como os movimentos juvenis enxergam o conflito israelo-palestino?”. A mesa foi aberta com a fala de Kike Rosenburt, seguido de Liran levy, representantando os movimentos Habonim Dror e Hashomer Hatzair respectivamente. A exposição dos dois trouxe um ponto até então pouco discutido dentro do universo do Fórum18: As dificuldades e resistências encontradas pelos movimentos de esquerda dentro do mundo paulistano, que não se apresentam no ambiente do Rio de Janeiro onde estão sediados. A falta de abertura e conservadorismo que diferenciam a comunidade paulistana frente a carioca, levou estes movimentos a centralizar suas atividades no Rio de Janeiro.

Ainda nesta mesa, tivemos a presença do Rabino Daniel Segal representando o movimento Bnai Akiva, e Andre Wajnberg representando os movimentos da CIP. O Rabino Daniel respondeu às diversas perguntas vindas do público, principalmente relacionadas ao posicionamento do Bnai Akiva frente às questões do conflito. O Rabino defendeu e mostrou que a percepção sobre participação do Bnai Akiva neste processo, é muitas vezes generalizada dentro da concepção da atuação da direita israelense.      Andre Wajnberg trouxe os desafios enfrentados para que se possa pensar em uma nova educação judaica, tanto formal quanto não-formal. Além do público presente, as falas foram discutidas pela especial presença de JOÃO K. MIRAGAYA por teleconferência, ao vivo, e que trouxe a visão de um ex-membro do habonim dror que hoje mora em Israel. João contestou muitos dos pontos ali expostos a partir de um ponto de vista diferente, trazendo uma visão como Israelense e sujeito deste meio de campo realizado pelos movimentos juvenis entre a diáspora e Israel.

Para fechar o Seminário, a última mesa contou com a presença do prof. Michel Gherman, tratando do tema “Identidade judaica e sionismo”. Michel levantou algumas das questões discutidas na mesa anterior para pensar a educação judaica no Brasil. As diferenças entre o Rio de Janeiro e São Paulo ficaram explícitas em mais um contexto, que é o das escolas judaicas. A discussão sobre a identidade judaica, que leva ao debate em torno da educação judaica, teve como referência as experiências educativas encontradas por Michel em Jerusalém. O modo tradicional de se perceber como parte de uma comunidade judaica, e seu modo de se relacionar com o mundo, tem mudado radicalmente nos últimos anos desde Jerusalém, e deve influenciar a educação judaica ao redor do globo. Uma diferente forma de se perceber dentro do contexto da diáspora, e de ressignificar esta relação com Israel, é a tendência hoje em Jerusalém e um debate caloroso para as diásporas.

Assim se encerrou o V Seminário, trazendo pequenas alternativas em seu formato, porém, que tiveram grande impacto no teor das discussões. A presença de um público contestador foi fundamental por sua grande participação e contribuição para o debate. Novos questionamentos surgiram, mas uma certeza coletiva: de que é hora de tentar transformar estas discussões em algo prático no cotidiano destas comunidades judaicas.

Shulamit Aloni (1928, 2014)

Shulamit Aloni não foi a primeira mulher a se alistar no Palmach. Shulamit Aloni não foi a primeira mulher a participar ativamente da construção das futuras gerações através da educação. Shulamit Aloni não foi a primeira mulher a participar do Knesset. No entanto, Shulamit Aloni participou de todas essas etapas da história de Israel de um modo responsável e coerente. Uma mulher que desde o início de sua vida entendeu o poder do comprometimento pessoal com os outros, a fim de construir um futuro de paz. Ao mesmo tempo, Shulamit Aloni foi exemplo de educadora e modelo para os que creem nos direitos humanos.

Shulamit AloniAcreditar na auto-determinação dos povos fez com que Shulamit Aloni conquistasse a Guerra de 1948. A crença universal no legado de paz e confiança inspirou Shula, como era conhecida, a lecionar em uma escola de imigrantes logo após a Guerra. A responsabilidade cidadã que colocava em prática com seu trabalho lhe deu forças para lutar pela inserção de “Estudos Civis” nos currículos escolares israelenses. Sua fé inabalável no judaísmo como um aglomerado de religião, filosofia e cultura a transformou numa professora de fontes judaicas.

Em sua carreira política, Shulamit Aloni deixou todas suas crenças expostas. Devido a isso, adquiriu inimigos e muitos amigos. Uma mulher que impôs, politicamente, a sua vontade de lutar contra a desigualdade de gêneros num país onde o exercito é uma grande força social, que buscou viver e deixar com que os outros vivessem de acordo com a sua própria percepção de judaísmo em um país que até hoje busca o significado de Estado Judeu, a Aloni membro do Knesset de 1968 até 1996 criou um legado.

Legado esse que, coincidentemente, está presente no dia de hoje, 27 de janeiro de 2014 – Dia Internacional de Memória do Holocausto. Ao colocarmos nosso passado e nossa realidade expostos de maneira responsável frente aos alunos construímos um futuro comprometido. Assim como o Holocausto não será esquecido, pois é um assunto providencial em qualquer currículo escolar que busque tratar de direitos humanos, Shulamit Aloni mostrou que a sala de aula é o campo no qual é semeado cidadania, respeito pelo próximo e coexistência religiosa. Não foi a toa que Itzhak Rabin depositou sua esperança na construção do currículo das escolas israelenses, durante seu mandato de transformação política, em Shulamit Aloni.

Enfim, aprendemos com Shulamit Aloni que a sala de aula é o espaço sagrado para dessacralizar tudo que nos torna humanos, diferentes e responsáveis. Como educadora, inspirou judaísmo, como política, demonstrou o poder de suas palavras, como mulher, batalhou, e no dia 24 de janeiro de 2014 faleceu deixando um legado humanitário.

Nelson Mandela e o Mossad

Ontem, quinta-feira, dia 19 de dezembro, o jornal israelense Haaretz publicou em seu site online na versão inglesa o conteúdo de uma carta confidencial de 1962, escrita pelo MOSSAD e enviada ao Ministério das Relações Exteriores de Israel”, em JerusalémSegundo o documento,revelado pela primeira vez na publicação em questão, Nelson Mandela recebeu treinamento em armamentos e sabotagem por parte do MOSSAD na “Universidade Hebraica de Jerusalém”.

David Fachler, quem descobriu o documento, tem 43 anos, cresceu e se formou na “África do Sul” e, atualmente, vive na cidade israelense de “Alon Shvut”. De acordo com ele, se na época em questão o Governo sul-africano tivesse descoberto o envolvimento entre Mandela e o MOSSAD, o fato poderia ser prejudicial para as comunidades judaicas locais.

Nelson Mandela passou a atuar de forma clandestina em 1960. Dois anos depois, ele deixou a “África do Sul” na ilegalidade e visitou diversos países africanos, dentre elesEtiópiaArgéliaEgito e Gana. Durante a viagem, buscou se encontrar com líderes de países da África, bem como angariar apoio financeiro e bélico para o grupo armado do “Congresso Nacional Africano” (CNA).

De acordo com a carta revelada pelo jornal Haaretzdurante este período Mandela teve treinamento militar por parte de agentes do MOSSAD na Etiópia. Pode-se depreender, pelo conteúdo do documento, que tais agentes não estariam cientes da real identidade de Mandela.

A carta está datada como sendo do dia 11 de outubro de 1962, aproximadamente dois meses antes de Mandela ser preso na “África do Sul”. Ela foi remetida a três pessoas: aNetanel Lorch – chefe do “Escritório Africano no Ministério das Relações Exteriores”; ao Major General Aharon Remez – chefe de departamento do “Ministério de Cooperação Internacional” e primeiro comandante em chefe das “Forças Aéreas de Israel”; e a Shmuel Sibonembaixador israelense em “Addis Abeba”, entre os anos de 1962 e 1966.

O assunto da carta é Pimpinela Negra”, o apelido em inglês utilizado pela mídia sul-africana para Nelson Mandela. O codinome foi baseado no romance “Pimpinela Escarlate”, da Baronesa Orczy.

O documento descoberto por David Fachler indica que Nelson Mandela cumprimentou os homens do MOSSAD com a palavra shalom. Além disso, ele estava a par de questões sobre os judeus e Israel, dando a impressão de ser um intelectual. O agente do MOSSAD que escreveu a carta indicou que Mandela demonstrou grande interesse pelos movimentos políticos e militares clandestinos de Israel e o staff tentou atraí-lo para o movimento sionista. Foi feita uma anotação manuscrita na carta, referindo-se a outra correspondência enviada duas semanas depois, em 24 de outubro de 1962. A anotação explicita que o “Pimpinela Negra” era Nelson Mandela, anexando uma breve explicação sobre sua pessoa que fora publicada no jornal Haaretz na época em questão.

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Imagem (Fonte):

http://www.reuters.com/article/2013/12/15/us-mandela-obituary-idUSBRE9BE04V20131215

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Fonte consultada:

http://www.haaretz.com/news/features/.premium-1.564412#

Texto originalmente publicado em: http://www.jornal.ceiri.com.br/nelson-mandela-e-o-mossad/

Nelson Mandela e os judeus

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Nelson Mandela e líderes da comunidade judaica.

No dia 5 de dezembro, faleceu, aos 95 anos de idade, o líder sul africano Nelson Mandela. Maior símbolo de combate ao apartheid, Mandela, se tornou um grande ídolo, amado por toda a África do Sul, inclusive pela comunidade judaica local.

Alguns judeus desempenharam um papel significativo na vida de Mandela e na luta contra o regime de segregação racial que vigorou no país de 1948 a 1994. O primeiro deles foi o advogado Lazar Sidelsky, que, em 1942, contratou o jovem Mandela como assistente jurídico. Em sua autobiografia, “Longa Caminhada para a Liberdade“, Mandela fez o seguinte relato sobre o escritório de Lazar Sidelsky:

Era uma firma judaica, e na minha experiência eu descobri que judeus têm mentes mais abertas do que a maioria dos brancos nos temas de raça e de política, talvez devido ao fato de eles próprios terem sido historicamente vítimas de preconceito.

Durante os anos em que a África do Sul esteve sob o regime de apartheid, muitos judeus assumiram papéis de liderança no Partido Comunista (PC) e figuraram entre os poucos sul africanos brancos que tratavam seus companheiros negros com dignidade e igualdade. Como consequência, muitos pagaram um alto preço, com o ostracismo social, prisão e exílio. Dentre eles estava Albie Sachs, que, em 1994, foi nomeado por Mandela juiz do Tribunal Constitucional da África do Sul; Joe Slovo, que posteriormente tornou-se ministro da habitação no gabinete do presidente Mandela; e Gill Marcus, que se tornou vice-ministra das Finanças no gabinete de Mandela, e fez história em novembro de 2009 ao se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidenta do Banco Central da África do Sul (South African Reserve Bank).

No famoso Julgamento por Traição, que se iniciou em 1956 e terminou apenas em 1961, com todos os acusados inocentados, um número expressivo de judeus ativos na luta contra o racismo estiveram presentes como réus e como advogados de defesa. Anos mais tarde, em 1964, no Julgamento de Rivonia, em que dez líderes do Congresso Nacional Africano (CNA) foram julgados por sua oposição ao regime – entre eles, Nelson Mandela, que recebeu a pena de prisão perpétua – um fato curioso: todos os cinco réus brancos daquele Tribunal eram judeus.

Outra personalidade de destaque com quem Mandela cultivou amizade foi Helen Suzman. Ativista na luta contra o apartheid, durante 13 anos (de 1961 a 1974) protagonizou um papel importante no Parlamento: a de ser a única deputada a se opor abertamente às práticas racistas na África do Sul. Ela visitou Mandela inúmeras vezes na prisão e esteve ao lado dele em 1996, ao assinar a nova Constituição.

Nelson Mandela ao lado de Helen Suzman, em 1990.

Nelson Mandela ao lado de Helen Suzman, em 1990.

A lista de judeus que atuaram próximos a Mandela e companheiros em sua luta é extensa. Embora não seja possível mencionar todos neste artigo, não podemos deixar de citar o Rabino Cyril Harris, Rabino-Chefe da África do Sul durante o período de 1987 a 2004, que desenvolveu um trabalho social relevante para a comunidade negra, criticou diretamente o sistema de segregação racial e buscou o diálogo com líderes do Partido Nacional  com o objetivo de flexibilizar o regime de apartheid.

Rabino Cyril Harris

Rabino Cyril Harris

Mandela e o Rabino Harris desenvolveram uma amizade afetuosa. Na posse de Mandela como presidente, em maio de 1994, o Rabino Harris fez um discurso comovente.  Frequentemente, Mandela se referia a ele como “meu rabino”. Em 1998, Mandela o convidou para dar uma bênção em hebraico no seu casamento com a moçambicana Graça Machel. O casamento estava marcado para 18 de julho, dia do octogésimo aniversário de Mandela, mas como era Shabat, o Rabino Harris explicou a Mandela que não poderia participar da cerimônia. Mandela fazia questão da benção do Rabino e, como solução, o Rabino Harris abençoou o novo casal na sexta-feira, antes do início do dia sabático. O Rabino Harris faleceu em 2005. No dia de seu enterro, em Jerusalém, o Embaixador sul africano esteve presente e discursou calorosamente sobre o “nosso rabino”.

A relação de Mandela com o Estado de Israel e a comunidade judaica também teve seus momentos difíceis. Durante a época do apartheid, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) havia construído uma relação estreita com o Congresso Nacional Africano (CNA), sendo que, durante alguns anos, ajudou a capacitar os membros de sua ala militar. A proximidade entre Mandela, Yasser Arafat e a OLP, que na época se recusava a reconhecer o direito de existência de Israel, rendeu críticas ao líder sul africano por parte da comunidade judaica local. Entretanto, Mandela simpatizava com Israel e com as aspirações do povo judeu de viver em paz com seus vizinhos árabes.

Mandela visitou Israel e a Cisjordânia pela primeira vez somente em outubro de 1999, época em que já não era presidente. Líderes da comunidade judaica sul africana o acompanharam e, ao reencontrar o Rabino Harris na Terra Santa, Mandela afirmou: “Agora me sinto em casa – meu rabino está aqui.”

Como presidente da nova África do Sul, Nelson Mandela realizou um ótimo trabalho. De forma notável, manteve o país unido em um momento tenso, que poderia ter culminado em uma guerra civil envolvendo diversas facções. Em grande medida, isso se deve à sua generosidade, carisma extraordinário e habilidade política para lidar com os diversos grupos que compunham a sociedade sul africana. Por esse legado, Mandela será um líder eternamente lembrado.

Genebra II a ser realizada em janeiro de 2014

As Nações Unidas” (ONU) anunciaram nesta semana que uma Conferência pela paz na Síria será realizada em Genebra, em janeiro de 2014. A decisão foi tomada meses após o primeiro intuito de se realizar este evento, já que as partes envolvidas no conflito estão em desacordo a respeito da pauta a ser adotada e sobre quem deverá estar presente. Após muita discussão e com o esforço internacional, a data para a Conferência – já conhecida como “Genebra II” – foi estabelecida[1].

1

Na última quarta-feira, o Governo sírio confirmou publicamente que estará presente. Segundo relatório oficial, a delegação estará sob direção do presidente Bashar al-Assad. A principal demanda da oposição, no entanto, foi estritamente negada por parte do Governo. Os grupos que lutam no confronto para o término da presidência de Assad exigem que o atual presidente não tenha qualquer participação em um projeto político de transição democrática.

O “Ministro das Relações Exteriores”, Walid Muallem, foi quem realizou o pronunciamento à agência de notícias SANA, afirmando que expectativas para a renúncia de Assad não passam de ilusões. Segundo Muallem, a delegação que representará o governo tem como objetivo atingir os interesses do povo, primeiramente eliminando o terrorismo. Por terrorismo, o Ministro provavelmente se referia aos grupos de oposição[2].

Após a confirmação por parte do governo, o líder do principal grupo de oposição,Ahmad Jarba, confirmou que estará presente em Genebra II e afirmou que enxerga as conversações a serem realizadas como um passo para a transição da liderança. A “Coalizão Nacional Síria” já havia estabelecido condições para sua presença naConferência. Dentre elas, o grupo exige a instalação de corredores humanitários e a soltura de prisioneiros políticos.

Na última quarta-feira à noite, Jarba reafirmou sua participação, reiterando que aCoalizão Nacional Síria” rejeita qualquer papel político por parte de Bashar al-Assadna transição que deve ser adotada[3].

Os esforços internacionais têm sido grandes pela realização da Reunião em Genebra.Irã e Turquia, que se encontram em lados opostos em relação ao conflito na Síria, se juntaram em pedidos de que um cessar fogo seja adotado no país antes das conversações de paz serem realizadas em janeiro. O “Secretário Geral da ONU”, Ban Ki-moon, declarou que “Genebra II objetivará o estabelecimento de um Governo de transição com plenos poderes executivos[4].

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Imagem (Fonte):

http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-24628442

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Fontes consultadas:

[1] Ver:

http://www.cnn.com/2013/11/25/world/meast/syria-civil-war/

[2] Ver:

http://www.aljazeera.com/news/middleeast/2013/11/assad-regime-says-no-surrender-power-20131127104615147136.html

[3] Ver:

http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-25133823

[4] Ver:

http://www.reuters.com/article/2013/11/27/us-syria-crisis-turkey-iran-idUSBRE9AQ0ND20131127

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Texto publicado originalmente no blog Oriente Médio Hoje.

Este e outros textos da autora podem ser conferidos em http://www.jornal.ceiri.com.br/author/carla/

Carta escrita por Mohamed Morsi afirma que o ex-presidente foi sequestrado e retido à força antes de ser deposto

Na última quarta-feira, dia 13 de novembro, o presidente deposto do Egito,Mohamed Morsi, deu pela primeira vez sinal de sua situação desde o golpe que o depôs do poder em julho deste ano. As notícias do Ex-Presidente vieram através de uma carta lida por seu advogado, Mohamed Damati, na televisão egípcia. Soube-se muito pouco sobre o paradeiro e a situação de Morsi desde que ele foi tirado do poder e a carta lida por Damati afirma que Morsi foi sequestrado pela “Guarda Republicana” um dia antes do golpe[1].

Segundo o relato da carta, supostamente escrita pelo líder da “Irmandade Muçulmana do Egito”, Guarda Republicana – grupo militar de elite que protege o palácio presidencial e outras instituições governamentais – sequestrou Mohamed Morsi no dia 2 de julho e o manteve à força em uma Base Naval”. O Exército anunciou a deposição de Morsi no dia 3 de julho. Desde que o general Abdel Fattah Al-Sisi assumiu o governo de transição e declarou planos para futuras eleições, quase nada foi informado a respeito do paradeiro e das condições do Ex-Presidente egípcio.

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Morsi apareceu pela primeira vez após sua deposição no dia 4 de novembro, em julgamento relacionado a acusações de incitação da violência e assassinato de manifestantes que protestavam em frente ao palácio presidencial em dezembro de 2012.Damati afirmou que Morsi ainda se recusa a reconhecer a Corte que o está julgando – a mesma onde o presidente anterior a ele, Hosni Mubarak, também está sendo julgado sob acusações semelhantes. Se Mohamed Morsi for condenado, ele pode receber pena de morte ou prisão perpétua[2].

A deposição Morsi foi requerida por manifestações massivas em junho e julho de 2013.Ele foi acusado por parte da população de manter um governo autocrático, islamita e sem liberdade de expressão, sendo prejudicial ao Egito de diversas formas, especialmente a econômica. Sendo a figura à frente da “Irmandade Muçulmana”, que representou por décadas a principal oposição ao governo de Hosni Mubarak, Morsi também possui grupos significantes de apoiadores que ficaram insatisfeitos com o movimento militar, alegando que a retirada do Ex-Presidente do poder foi um ato antidemocrático.

Desde julho, a tensão entre a Irmandade Muçulmana e as Forças Armadasaumentaram significativamente, gerando confrontos violentos pelo país. A “Irmandade Muçulmana” conseguiu maioria de votos em todas as eleições democráticas realizadas após a renúncia de Hosni Mubarak. Centenas de membros do grupo foram assassinados e milhares presos, inclusive seus principais líderes. Em setembro, após a queda de Mohammed Morsi, a organização islamita foi banida e teve seus bens confiscados pelo tribunal egípcio[3].

A carta escrita por Morsi e lida por seu advogado é a primeira manifestação pessoal do Ex-Presidente acerca dos acontecimentos que se desenrolaram no país desde julho.

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Imagem (Fonte):

http://www.jpost.com/Middle-East/Egypts-Morsi-says-he-was-kidnapped-before-being-removed-by-army-331597

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Fontes consultadas:

[1] Ver:

http://www.haaretz.com/news/middle-east/1.557822

[2] Ver:

http://worldnews.nbcnews.com/_news/2013/11/04/21302725-why-deposed-egypt-president-morsis-trial-is-so-important

[3] Ver:

http://www.aljazeera.com/news/middleeast/2013/11/egypt-court-upholds-muslim-brotherhood-ban-2013116101936365849.html

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Texto publicado originalmente no blog Oriente Médio Hoje.

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Conferência sobre resolução da crise na Síria a ser realizada em Genebra continua sem data marcada

A atual guerra civil na Síria teve início com revoltas pacíficas contra o governo em março de 2001. Com mais de dois anos e meio de duração, o conflito já resultou em um número superior a 100 mil mortos. Em maio de 2013, surgiu pela primeira vez a ideia de uma reunião em Genebra para se chegar a alguma resolução diplomática e, em setembro, o “Secretário Geral das Nações Unidas”, Ban Ki-moon, anunciou uma data provisória para a realização da conferência em questão, que deveria acontecer em meados do atual mês de novembro.

Arab League-United Nations envoy Brahimi pauses during a news conference on the situation in Syria at the UN in Geneva

Esta semana, o enviado da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, declarou que a data para o encontro planejado em Genebra terá que ser adiada. Seu anúncio foi feito após um dia de reuniões com diplomatas. Uma das principais questões que funciona como um obstáculo para a realização do evento é a recusa da oposição a respeito da presença do atual presidente sírio, Bashar al-Assad, ou de algum de seus representantes. Assad, por sua vez, afirma que qualquer resolução para a Síria só pode ser atingida se a ajuda externa enviada a forças da oposição para armamentos for finalizada[1].

Brahimi discutiu a situação da Síria nesta última terça-feira em Genebra, encontrando-se com enviados dos “Estados Unidos” (EUA) e Rússia, além dos outros três membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU”, Grã-Bretanha, França e ChinaAs conversações diplomáticas também envolveram os países vizinhos à Síria – Turquia, Irã, Jordânia e Iraque. No encontro, ainda, oficiais do “Comitê Internacional da Cruz Vermelha” e de agências de ajuda humanitária da ONU chamaram a atenção para a gravíssima situação social da população síria, que enfrenta problemas de saúde, pobreza e fome, além do alto índice de mortos e refugiados[2].

Dentre os desentendimentos acerca do acerto de uma data para a conferência em prol da resolução do conflito, agora também encontra-se a possível participação do Irã. Sergei Lavrov, “Ministro das Relações Exteriores da Rússia”, reiterou que todos os atores que influenciam a situação devem estar presentes, inclusive o Irãe não somente os países árabesAhmad Jarba, presidente daCoalizão Nacional Síria – principal grupo da oposição ao governo de Assad – declarou que a organização se recusa a estar presente caso o governo iraniano faça parte da conferência[3].

A forte influência da Rússia e do Irã no cenário político da Síria tem sido caso de discussão internacional nos últimos meses, bem como o apoio fornecido por estes países ao governo de Bashar al-Assad. Sergei criticou fortemente a posição de Jarba e afirmou que não devem haver pré-condições para a realização de “Genebra 2”.

Lakhdar Brahimi falou que o adiamento da data prevista já era de se esperar, porém o “Secretário Geral da ONU” encontra-se impaciente pela realização do encontro. A situação no país continua a piorar altamente para a população local. Atualmente, cerca de 6 mil pessoas deixam o país todos os dias.

A “Subsecretária-Geral para Assuntos Humanitários e Coordenadora de Ajuda Humanitária das Nações Unidas”, Valerie Amos, declarou ao “Conselho de Segurança” que a crise na Síria continua a se deteriorar rápida e inexoravelmente”. No momento, aproximadamente 9,3 milhões de pessoas, cerca de 40% da população local, está necessitando de assistência internacional[4].

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Imagem (Fonte):

http://www.reuters.com/article/2013/08/28/us-syria-crisis-brahimi-idUSBRE97R0EW20130828

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 Fontes consultadas:

[1] Ver:

http://www.un.org/sg/offthecuff/index.asp?nid=3162

[2] Ver:

http://www.un.org/sg/spokesperson/highlights/

 [3] Ver:

 http://www.haaretz.com/news/middle-east/1.556403

 [4] Ver:

https://docs.unocha.org/sites/dms/Documents/25%20Oct%2013%20Valerie%20Amos%20Statement%20to%20Security%20Council%20on%20Syria.pdf

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Texto publicado originalmente no blog Oriente Médio Hoje.

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V Seminário Israel – Palestina: Narrativas em Jogo será em São Paulo no dia 10 de novembro

No dia 10 de novembro de 2013, domingo, das 9h30 às 18h, ocorre em São Paulo a quinta edição do Seminário Israel – Palestina: Narrativas em Jogo, uma iniciativa do grupo Fórum 18 que visa possibilitar a compreensão das diversas narrativas a respeito do conflito israelo-palestino.

Em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, já foram promovidos quatro grandes seminários em 2011, 2012 e 2013, que contaram com a participação de palestrantes como Abdel Latif Hasan, Amira Hass, Arlene Clemesha, Celso Garbarz, Edgar Leite, George Niaradi, Guila Flint, Huda Al Bandar, Huda Al Imam, Ilan Sztulman, Jaime Spitzcovsky, Jacques Wainberg, Luis Edmundo Moraes, Marta Topel, Michel Gherman, Murilo Meihy, Patrícia Tolmasquim, Paulo Farah, Peter Demant, Salem Nasser, Sylvio Band, Vladimir Safatle e Walid Altamami.

A quinta edição do evento contará com palestras de Luis Edmundo Moraes, Michel Gherman, Mohamed Habib e Samuel Feldberg abordando temas como os 20 anos dos acordos de Oslo e as perspectivas para o futuro, antissemitismo e antissionismo, e identidade judaica e sionismo. Haverá ainda um debate sobre o modo como os diferentes movimentos juvenis enxergam o conflito israelo-palestino com André Wajnberg (Chazit/Avanhandava), Enrique Rosenburt (Habonim Dror), Liran Levy (Hashomer Hatzair) e Rabino Daniel Segal (Bnei Akiva), além da participação especial por videoconferência de Amir Szuster e João K. Miragaya, do Conexão Israel.

O seminário é gratuito e acontece na B’nai B’rith, em São Paulo. (Rua Caçapava, 105. Jardins. São Paulo-SP). Para participar, é necessário inscrever-se aqui.

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V SEMINÁRIO ISRAEL – PALESTINA: NARRATIVAS EM JOGO – PROGRAMA
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09:30-10:30    DISTRIBUIÇÃO DE MATERIAL E BOAS VINDAS

10:00-10:15    ABERTURA

10:15-11:45    20 ANOS DE OSLO: PERSPECTIVAS PARA O FUTURO
……………….Mohamed Habib (ICArabe) e Samuel Feldberg (Faculdades Integradas Rio Branco)

11:45-12:00     COFFEE-BREAK 1

12:00-13:30     ANTISSEMITISMO E ANTISSIONISMO
……………….Luis Edmundo Moraes (UFFRJ)

13:30–14:30     ALMOÇO

14:30–16:00     “COMO OS MOVIMENTOS JUVENIS ENXERGAM O CONFLITO ISRAELO PALESTINO?
……………….André Wajnberg (Chazit), Enrique Rosenburt (Dror), Liran Levy (Shomer) e Rabino Daniel Segal (Bnei Akiva)
……………….Participação por videoconferência: Amir Szuster e João K. Miragaya (Conexão Israel)

16h00–16:15    COFFEE BREAK 2

16:15–17:45     IDENTIDADE JUDAICA E SIONISMO
………………..Michel Gherman (NIEJ/UFRJ)

17:45-18:00      ENCERRAMENTO