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Olimpíadas de Munique

No fim do século XX, o esporte serviu de meio de aproximação entre a China e os EUA. Na época do presidente Nixon, as relações entre os dois países começaram a “esquentar” através dos jogos de pingue pongue. Mas nem sempre as olimpíadas serviram para promover a paz. Um dos piores exemplos foram as Olimpíadas de Munique.

Em 1970, havia um grande número de palestinos morando na Jordânia. O Rei Hussein logo foi percebendo que estava se criando um estado palestino dentro de seu próprio território.

Assim, em setembro de 1970, as forças militares do Rei Hussein começaram a eliminar parte da guerrilha palestina. Depois disso aconteceram vários conflitos sucessivos chegando ao total de dez mil mortos. Esse episódio ficou conhecido como Setembro Negro. Dois anos após esses acontecimentos começavam as “Olimpíadas de Munique” na mesma Alemanha que havia sediado as Olimpíadas de Berlim em 1936, nas quais Hitler tivera como objetivo mostrar a superioridade da raça ariana. Nas Olimpíadas de Munique, a Alemanha tinha a chance de mostrar a todos que havia deixado de ser uma ameaça ao mundo e que estava livre do estigma do racismo.

Mas nem tudo ocorreu como esperado. A OLP (Organização para Libertação Palestina) enviou uma carta para a COI (Comitê Olímpico Internacional) solicitando que a Palestina participasse dos Jogos Olímpicos de Munique. Não houve nenhuma resposta, o que foi suficiente para o grupo Setembro Negro (relacionado ao Fatah – grupo político do Yasser Arafat – cujo nome remete ao episódio do massacre jordaniano sobre os palestinos, em setembro de 1970) se dispor, como vingança, a acabar com as Olimpíadas de Munique.

A operação terrorista começa no dia 5 de setembro as 4:30h da manhã. Oito terroristas entram na Vila Olímpica, situada na Connolly Strasse 31, escalam o muro disfarçados de atletas com uma sacola esportiva carregada de rifles.  Apesar de serem vistos por alguns seguranças, nada aconteceu, pois era normal atletas chegarem de madrugada quando os portões já estavam fechados.

Eles entram no prédio das delegações do Uruguai, Hong-Kong e Israel. Poucos minutos depois, chegam ao primeiro apartamento israelense. Um dos terroristas bate na porta e grita em alemão: “É esta a equipe israelense?”. Moshe Weinberg de 33 anos, treinador da equipe de luta israelense, assustado, abre uma fresta da porta, percebe o perigo que estava correndo e grita em Hebraico para seus colegas de quarto “Rapazes, saiam!” enquanto fica na frente da porta impedindo que os terroristas entrem. Ele é baleado.

Os atletas que estão no apartamento acordam com o barulho e tentam fugir; Joseph Romano tenta reagir e é baleado. Os terroristas capturam nove reféns e os levam amarrados para o terceiro andar, junto com o corpo de Romano para servir de exemplo do que poderia acontecer com eles caso tentassem reagir.

Os terroristas exigem a libertação de 200 prisioneiros palestinos presos em território israelense. Se o pedido não fosse atendido até às nove horas, todos os reféns seriam mortos. Dizem pertencer ao grupo terrorista Setembro Negro.

Avery Brundage, o mesmo que no passado vislumbrou o poder nazista, era o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional) e estava diante da pior crise que os Jogos Olímpicos haviam enfrentado. Quando soube do sequestro, suspendeu os jogos por 24 horas. Porém, os jogos que já estavam em andamento não foram interrompidos.

Enquanto isso, em Israel, a primeira-ministra Golda Meir decidiu que não iria ceder às exigências dos terroristas. Ela afirmou: “Se cedermos, nenhum israelense, em nenhum lugar do mundo, poderá sentir-se seguro”. O chanceler alemão ocidental chegou a Munique para tentar resolver o problema. Golda Meir enviou Zvi Zamir, chefe do serviço secreto de Israel (Mossad), para Munique como seu representante, que chegou acompanhado de um agente do Shin Bet (serviço de segurança interno israelense), mas sua ajuda não foi bem vinda pelas autoridades alemãs, e aos dois não restou nada mais do que ficar parados e assistir aos erros cometidos pelos alemães.

O mundo acompanhava pela primeira vez a verdade sobre os ataques terroristas. O seqüestro estava sendo televisionado ao vivo, e com isso os terroristas palestinos conseguiram uma grande publicidade que pretendiam usar para conseguir a Independência de um futuro Estado Palestino.

A Alemanha precisava resolver esse problema o mais rápido possível, e então os alemães decidiram agir: preparam uma emboscada aos terroristas.

Os terroristas haviam exigido um avião que os levaria junto com os reféns até alguma capital árabe. Os negociadores alemães diziam que Israel havia cedido os 200 prisioneiros, e que as autoridades da Alemanha Ocidental iriam providenciar três helicópteros que os levassem até a base aérea de Fürstenfeldbruck, e logo depois tomariam um avião até o destino que escolhessem.

Enquanto as negociações eram feitas pela Alemanha Ocidental, a polícia alemã estava planejando um resgate. Foram posicionados mais de 500 policiais ao longo do trajeto até Fürstenfeldbruck. Esse aeroporto serviria apenas para a operação do resgate. Em Fürstenfeldbruck haveria cinco francos-atiradores, três posicionados no alto da torre de controle e outros dois escondidos na pista de vôo. Mas havia um detalhe: eles não estavam equipados com rádios para se comunicar.

Um ônibus saiu da Connolly Strasse e leva os terroristas até os helicópteros. Havia um helicóptero para as autoridades alemãs e Zvi Zamir, e outros dois para os terroristas e reféns. Às 22:30hs o primeiro helicóptero pousou. Zvi Zamir e as autoridades alemãs foram para a torre de controle. Após cinco minutos, chegam os helicópteros dos terroristas e reféns. Dois terroristas armados vão em direção ao avião da Lufhtansa. Ao perceberem que o avião não estava preparado para o embarque, caminham de volta para os helicópteros. Os francos-atiradores disparam em direção aos terroristas, porém atingem apenas um deles. Os tiros continuam e acertam mais um terrorista. Outros dois terroristas percebem que é uma emboscada e jogam uma granada nos reféns que estavam dentro do helicóptero. O tiroteio teve seis minutos de duração, com um saldo de nove reféns assassinados, cinco terroristas mortos, um policial gravemente ferido e três terroristas presos.

Na mesma noite, um policial alemão disse aos jornalistas que os terroristas haviam sido mortos e os reféns salvos. Jornais e noticiários dos quatro cantos do mundo anunciaram o resgate dos reféns. O mundo suspirava aliviado. Em Israel, pessoas dormiram tranquilas, pensando que a delegação israelense estava a salvo.

Até que, quatro horas depois, aparece a policia alemã para “corrigir” a informação. O jornalista Jim McKay, pronunciou ao mundo a tragédia: “They’re all gone”.

Todos os reféns foram assassinados!

A operação havia sido um desastre. Além de deixar os atiradores incomunicáveis, eles não possuíam coletes à prova de balas. Deveria haver 16 policiais posicionados dentro do avião com permissão para atirar nos dois terroristas que fossem revistar o local antes do embarque. Só que minutos antes dos helicópteros chegarem, os policiais constataram que não estavam preparados, e nem sequer avisaram ao comandante que estavam abandonando a operação.

No dia seguinte, o COI (Comitê Olímpico Internacional) decidiu reiniciar os jogos; as bandeiras dos países participantes foram estiadas pela metade, em sinal de luto. Também foi realizada uma cerimônia em memória dos atletas, mas nada conseguiu apagar a trágica história dos Jogos Olímpicos de Munique.

Três meses após o atentado, no dia 29 de Outubro de 1972, um grupo terrorista seqüestrou um avião da Lufthansa, exigindo a libertação dos três membros do grupo Setembro Negro que haviam sido presos. O governo alemão libertou os terroristas, sem ao menos consultar o governo israelense.

A primeira-ministra de Israel, Golda Meir, ordenou que o Mossad começasse uma ação contra o terrorismo. Nos anos seguintes, o Mossad executou 12 terroristas ligados ao massacre de Munique.

O prédio onde o Massacre de Munique aconteceu está quase inalterado hoje.

 

Texto publicado originalmente na Revista Chai Or Israel nº 19.