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Fórum 18 promove a 3ª edição do Seminário Israel – Palestina: Narrativas em Jogo, em Porto Alegre

No dia 2 de dezembro de 2012, domingo, ocorre em Porto Alegre a terceira edição do Seminário Israel – Palestina: Narrativas em Jogo, uma iniciativa promovida pelo grupo Fórum 18 que visa possibilitar a compreensão das diversas narrativas a respeito do conflito palestino-israelense.

O seminário acontece um dia após o término do Fórum Social Mundial Palestina Livre, que será realizado entre 29/11 e 1/12 na capital gaúcha. O objetivo é aproveitar o fervilhão de idéias, pensamentos e dúvidas em torno do evento para que se construa um espaço de diálogo e entendimento mútuo.

O grupo Fórum 18 surgiu por iniciativa da B’nai B’rith e de jovens da comunidade judaica de diversos estados do Brasil interessados em aprofundar conhecimentos em questões relacionadas ao Estado de Israel e, em especial, o conflito com os palestinos.

Em São Paulo, já foram promovidos dois grandes seminários em 2011 e 2012, que contaram com a participação de palestrantes como Abdel Latif Hasan, Arlene Clemesha, George Niaradi, Guila Flint, Huda Al Bandar, Ilan Sztulman, Jaime Spitzcovsky, Marta Topel, Michel Gherman, Paulo Farah, Peter Demant, Salem Nasser, Sylvio Band, Vladimir Safatle e Walid Altamami.

A terceira edição do evento contará com palestras de Arlene Clemesha, Celso Garbarz, Guila Flint, Huda Al Imam, Jacques Wainberg, Jaime Spitzcovsky e Patrícia Tolmasquim abordando temas como as organizações de direitos humanos em Israel, criação do Estado Palestino e o papel das diásporas para o processo de paz. O seminário é gratuito e acontece na Hebraica Bom Fim (Rua Gen. João Telles, 508), das 9h30 às 16h30. Para participar, é necessário preencher a ficha de inscrição disponível aqui.

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3° SEMINÁRIO ISRAEL – PALESTINA: NARRATIVAS EM JOGO – PROGRAMA

9h – 9h30        Distribuição de material e boas vindas

9h30 – 11h      CRIAÇÃO DO ESTADO PALESTINO: CAMINHOS E OBSTÁCULOS
                            Arlene Clemesha e Jacques Wainberg
                            Mediação: Felipe Gerchman

Arlene Elizabeth Clemesha, PhD, é Professora de História e Cultura Árabe do Curso de Língua, Literatura e Cultura Árabe da USP (DLO, FFLCH-USP), e atual diretora do Centro de Estudos Árabes (CEAr-USP). Coordena o grupo de estudos História e Ideologia Contemporâneas no Oriente Médio, na mesma universidade. É autora e organizadora de vários livros, entre eles “Marxismo e Judaísmo. História de uma relação difícil”; “Edward Said: trabalho intelectual e crítica social”; “Palestina 48-08″. Traduziu o livro “Freud e os Não-Europeus”, entre outros escritos de Edward Said, e publicou inúmeros artigos relacionados à história contemporânea do Oriente Médio.

Jacques Wainberg possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1979) e em jornalismo pela Universidade da Flórida, em Gainesville, mestrado em Jornalismo pela University of South Carolina (1990) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1996). O Pós-Doutorado foi realizado na Universidade do Texas, Austin, Estados Unidos. Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teoria e Ética do Jornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: jornalismo, turismo, história e teoria da comunicação,  relações internacionais e comunicação.

11h – 11h15        Coffee break 1

11h15 – 12-45    ORGANIZAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS EM ISRAEL: PANORAMA
                                Celso Garbarz e Guila Flint
                                Mediação: Gabriela Korman

Celso Garbarz é professor de História, especializado em Oriente Médio, com mestrado em História na Universidade de Jerusalém. Ex-diretor da Anistia Internacional, responsável pela América Latina e pela África. Faz parte da ONG israelense B´Tselem (The Israeli Information Center for Human Rights in the Occupied Territories), criada em 1989 por um grupo proeminente de acadêmicos, advogados, jornalistas e membros da Knesset.

Guila Flint, 56, nasceu em São Paulo e mora em Israel desde 1969. Jornalista, cobre o conflito para a imprensa brasileira desde 1995. Atualmente, é repórter da BBC Brasil. Já colaborou com O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Correio Brasiliense, Carta Capital, revista Visão (de Portugal) e outros. Foi correspondente da Globo News de 1997 a 2002. Publicou dois livros: Israel Terra em Transe – Democracia ou Teocracia?, em coautoria com Bila Sorj, e Miragem de Paz – Israel e Palestina, Processos e Retrocessos.

12-45 – 13h45         Almoço

13h45 – 14h45       JERUSALÉM SOB O OLHAR DE UMA PALESTINA
                                    Huda Al Imam
                                    Mediação: Ariel Sandes

Huda Al Imam é fundadora e diretora da Al Quds University, the Centre for Jerusalem Studies. Faz parte de diversas mesas diretoras de organizações como o Institute of Jerusalem Studies, Jerusalem Centre for Women, the Peoples’ Campaign for Peace & Democracy – HASHD, Al-Ma’mal Foundation for Contemporary Art, e The Palestine Consultancy Group (PCG).

14h45 – 15h         Coffee break 2

15h – 16h30      PAPEL DAS DIÁSPORAS PARA O PROCESSO DE PAZ: COMO PODEMOS CONTRIBUIR?
                                Jaime Spitzcovsky e Patrícia Tolmasquim
                               Mediação: Gabriel Baron Bastos

Jaime Spitzcovsky é jornalista e integra o Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP. Ocupa o cargo de diretor de relações institucionais da Confederação Israelita do Brasil. Foi correspondente da Folha de S. Paulo em Moscou, entre 1990 e 1994, e em Pequim, entre 1994 e 1997. Fez coberturas jornalísticas em mais de 40 países, com destaque para região da extinta URSS, Extremo Oriente e Oriente Médio (Israel, territórios palestinos, Egito, Jordânia, Líbano, Iraque e Líbia). Foi comentarista internacional da Band News FM e colaborou com a BBC (Reino Unido), Haaretz (Israel), Diário de Notícias (Portugal), El Mercurio (Chile), TV Cultura, entre outros meios de comunicação.

Patrícia Tolmasquim é professora e militante dos direitos humanos. Em 2012, recebeu o Diploma Mulher-Cidadã Leolinda de Figueiredo Daltro, concedido pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

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Entender o outro é possível

Não é de hoje que os jovens interessados pelos conflitos no Oriente Médio gostam de discutir a problemática árabe-israelense. De ultra sionistas a marxistas, dos direitistas aos esquerdistas, dançarinos e militantes de movimentos juvenis, todos querem dar seu pitaco no assunto. As questões geralmente giram em torno de dilemas como a legitimidade da criação de um Estado Palestino, autodefesa israelense e, principalmente, o suposto ataque midiático a Israel. A par dessa realidade está a organização B’nai B’rith, que nos dia 4 de setembro de 2011 ofereceu a jovens de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre uma oportunidade única de discutir esses assuntos. Sem enrolação. Sem frescura. Sem nenhum contexto cor-de-rosa.

O seminário Narrativas em Jogo, realizado em São Paulo, contou com a participação de mais de 30 jovens dispostos a escutar especialistas no assunto e pessoas diretamente envolvidas no tema. Como afirmou Abraham Goldstein, presidente da B’nai B’rith Brasil, nós só poderemos entender e ajudar Israel a ser um país melhor se analisarmos seus erros e acertos de maneira crítica.

Quando se fala de pessoas diretamente envolvidas no conflito, estamos acostumados a escutar o lado judeu: a ação frequente dos terroristas, os kassamim jogados dia após dia contra os civis, o medo de ter um filho sequestrado. Entretanto, poucas vezes se tem a oportunidade de escutar o outro lado. Não uma versão diferente dos mesmos fatos, mas fatos diferentes que, se colocados com tudo que já sabemos, constituem uma única história. Que precisa e quer ser contada. Assim, pela primeira vez em um seminário voltado a jovens judeus, dois refugiados palestinos deram seu relato de vida.

Huda e Walid em seminário na B’nai Brith, em São Paulo

Relatos

Walid Altamami e Huda Al Bandar vivem em Mogi das Cruzes (SP) há quatro anos, falam português, mas utilizaram a ajuda da tradução feita por Paulo Farah, professor da USP e palestrante do evento. Não por ser incompreensível o que diziam, mas por uma postura da equipe de organização do seminário que considerava interessante o casal poder se expressar livremente em sua língua. Huda conta que após a Guerra dos Seis Dias (1967), a família migrou para a Jordânia. Logo, veio a Guerra de Yom Kippur, em 1973, e tiveram que fugir para o Iraque. Entretanto, após a invasão americana ao país, em 2003, a família viu-se encurralada no meio de conflitos. Viveram mais quatro anos entre a fronteira da Jordânia com o Iraque até receberem apoio da ONU, que os enviou ao Brasil. Entretanto, Walid afirma que o processo de estabelecimento no país não foi nada fácil. “A ONU prometeu muitas coisas, mas não vi nada”.

Ele diz que não há relação direta dos refugiados com o governo brasileiro, e que até dois anos atrás não tinham documentos nem contato com a Polícia Federal. Além disso, não receberam qualquer suporte para aprender a língua ou conseguir emprego. Hoje, Walid sente-se vivendo em “um exílio dentro de um exílio”, pois o trabalho que arranjou é no Mato Grosso – longe da família. Mesmo assim, se diz contente com a recepção do povo brasileiro. “Onde eu moro não há divisões, temos liberdade de expressão e opinião”. Mas alfineta: “essa liberdade de expressão fizemos por nós mesmos, porque o governo não fez nada”.

Walid afirma que sua família, ao se ver obrigada a sair da região onde morava na Palestina, perdeu suas terras e propriedades. “Quando uma pessoa perde tudo que tem, também perde sua humanidade”, diz. Huda explica sua situação de maneira tragicômica. “Quando me perguntam de onde venho, digo: do Iraque, do Líbano, da Palestina”. O casal tem clara em sua concepção que o conflito não é religioso. Walid acredita que quem diz isso não sabe o que se passa nas fronteiras. “Somos todos humanos, somos todos um só”, declara, destacando que o maior problema é o extremismo. “Sei que dos dois lados há esse tipo de atitude. Rejeito qualquer tipo de extremismo”.

O casal critica as ações do governo de Israel e deixa explícito seu anseio por um dia poder viver na Palestina, que diz ser seu lugar de direito. “A Palestina é nosso país e não podemos esquecer isso. Sou refugiado porque minha avó é refugiada, minha mãe é refugiada e meus filhos são refugiados”, lamenta Huda. Eles acreditam que se os dois lados fizerem concessões será possível ter dois Estados.

Apesar das críticas, Walid deixa a mensagem de que há milhões de muçulmanos que gostam e respeitam todas as religiões, assim como ele é ciente de que muitos judeus respeitam os palestinos. “Por isso me propus a vir aqui hoje. Não faço distinção alguma entre judeus e palestinos”, assegura.

Se a construção da memória for mútua, o caminho para a compreensão e empatia se tornará um atalho para uma, quem sabe, sonhada coexistência.